MANIFESTAÇÃO CONTRA O APARTHEID NA AFRICA DO SUL
SOWETO-A África do Sul comemorou nesta terça-feira o aniversário de 33 anos do evento conhecido como o "Levantamento de Soweto", considerado o início do fim do regime do Apartheid no país.
O regime segregacionista sul-africano terminou apenas em 1991, mas as sementes da sua ruína foram lançadas em 16 de junho de 1976, quando um grupo de estudantes negros se rebelou contra a ordem do governo que tornou obrigatório o ensino do africâner, o idioma de grande parte da classe dominante branca, e organizou uma manifestação ilegal no bairro de Soweto, em Johanesburgo.
Calcula-se que mais de 500 estudantes tenham morrido quando a polícia abriu fogo contra eles. A imagem de Hector Piterson, ferido mortalmente aos 13 anos, correu mundo.
No local do assassinato de Piterson, hoje existe um museu com o seu nome, e onde o dia 16 de junho,terça-feira, foi palco de uma série de eventos para lembrar a data, conhecida hoje como "Dia da Juventude".
"A nossa África do Sul começou a nascer naquele dia", diz Thabo Kubu, um dos organizadores do evento.
Resistência
Revoltados com a violência policial, os protestos se espalharam rapidamente por todo o país e levaram ao aumento da resistência negra. Milhares foram presos ou exilados.
"A repressão aumentou muito depois de 1976, mas não tínhamos medo, porque sabíamos que estávamos certos. Fui exilado em Angola, escutava que o mundo todo nos apoiava e isso nos dava muita força para seguir lutando", diz Kubu.
O estudante Emmanuel Bulala, de 17 anos, diz que sua geração colhe os frutos do passado já que pode "celebrar ao invés de lutar"."Hoje estamos em uma boa situação, a noção de viver em paz com os outros, de harmonia entre as raças, faz parte do caráter sul-africano", diz ele. Do outro lado da cidade, o branco e ex-militar John Gansh, relembra, bebendo em um restaurante português, os acontecimentos de 33 anos atrás, hoje transformados em um feriado nacional. "Eu era um garoto de 16 anos, recordo-me que eram tempos difíceis e acho que a polícia só fez aumentar a violência. Entrei no Exército naquele ano e fui combater a guerrilha na fronteira do que hoje é a Namíbia, onde vivi muitas situações de combate com negros", diz.
"País melhor"Mas nunca fui racista. Mesmo durante o Apartheid, tinha amigos negros. Acredito que a África do Sul é um país melhor hoje por ser democrática, embora tenha problemas sérios como corrupção e violência."
Gansh afirma que não gosta do tratamento dado, no país e no mundo, ao ex-prisioneiro político Nelson Mandela."Ele deveria ter sido executado. Foi responsável pela morte de pessoas, não é um herói", diz. O analista político Joseph Oesi afirma que a questão racial "só será completamente resolvida no país em duas ou três gerações"."O país, como nós, os negros, o enxergamos, ainda é muito novo."Mas muitos, como Kubu e o jovem Bulala, se dizem satisfeitos com este novo país e a forma como vem lidando com a questão da integração racial."No meio do conflito, não nos perdemos, mas conseguimos nos encontrar. E o que vejo hoje é um povo que não permitiu que o rancor fizesse parte de sua identidade nacional", diz Kubu.
BBC BRASIL
O regime segregacionista sul-africano terminou apenas em 1991, mas as sementes da sua ruína foram lançadas em 16 de junho de 1976, quando um grupo de estudantes negros se rebelou contra a ordem do governo que tornou obrigatório o ensino do africâner, o idioma de grande parte da classe dominante branca, e organizou uma manifestação ilegal no bairro de Soweto, em Johanesburgo.
Calcula-se que mais de 500 estudantes tenham morrido quando a polícia abriu fogo contra eles. A imagem de Hector Piterson, ferido mortalmente aos 13 anos, correu mundo.
No local do assassinato de Piterson, hoje existe um museu com o seu nome, e onde o dia 16 de junho,terça-feira, foi palco de uma série de eventos para lembrar a data, conhecida hoje como "Dia da Juventude".
"A nossa África do Sul começou a nascer naquele dia", diz Thabo Kubu, um dos organizadores do evento.
Resistência
Revoltados com a violência policial, os protestos se espalharam rapidamente por todo o país e levaram ao aumento da resistência negra. Milhares foram presos ou exilados.
"A repressão aumentou muito depois de 1976, mas não tínhamos medo, porque sabíamos que estávamos certos. Fui exilado em Angola, escutava que o mundo todo nos apoiava e isso nos dava muita força para seguir lutando", diz Kubu.
O estudante Emmanuel Bulala, de 17 anos, diz que sua geração colhe os frutos do passado já que pode "celebrar ao invés de lutar"."Hoje estamos em uma boa situação, a noção de viver em paz com os outros, de harmonia entre as raças, faz parte do caráter sul-africano", diz ele. Do outro lado da cidade, o branco e ex-militar John Gansh, relembra, bebendo em um restaurante português, os acontecimentos de 33 anos atrás, hoje transformados em um feriado nacional. "Eu era um garoto de 16 anos, recordo-me que eram tempos difíceis e acho que a polícia só fez aumentar a violência. Entrei no Exército naquele ano e fui combater a guerrilha na fronteira do que hoje é a Namíbia, onde vivi muitas situações de combate com negros", diz.
"País melhor"Mas nunca fui racista. Mesmo durante o Apartheid, tinha amigos negros. Acredito que a África do Sul é um país melhor hoje por ser democrática, embora tenha problemas sérios como corrupção e violência."
Gansh afirma que não gosta do tratamento dado, no país e no mundo, ao ex-prisioneiro político Nelson Mandela."Ele deveria ter sido executado. Foi responsável pela morte de pessoas, não é um herói", diz. O analista político Joseph Oesi afirma que a questão racial "só será completamente resolvida no país em duas ou três gerações"."O país, como nós, os negros, o enxergamos, ainda é muito novo."Mas muitos, como Kubu e o jovem Bulala, se dizem satisfeitos com este novo país e a forma como vem lidando com a questão da integração racial."No meio do conflito, não nos perdemos, mas conseguimos nos encontrar. E o que vejo hoje é um povo que não permitiu que o rancor fizesse parte de sua identidade nacional", diz Kubu.
BBC BRASIL
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