RIO DE JANEIRO-No Brasil, a pobreza já se transformou em atracção turística, em que as agências vendem o "exótico" para atrair os que procuram "experiências inusitadas" nas favelas, afirma a socióloga Bianca Freire-Medeiros.
Autora de investigação sobre a favela carioca como destino turístico e do livro recentemente publicado no Brasil "Gringo na Laje", a socióloga Bianca Freire-Medeiros defende que a pobreza como mercadoria é um fenómeno global.
"Não é exclusividade do Brasil" e data da década de 1990, esclareceu.
"A curiosidade não é nova, mas eu tento entender o que muda. O turismo na favela tem razão de ser, porque é diferente, uma experiência em primeira-mão com uma dimensão de aventura. Há uma questão mercantil de compra e venda com investimento em marketing", adiantou a investigadora.
Freire-Medeiros, que esteve nas townships (bairros degradados) da África do Sul e em Dharavi, a maior slum da Índia, concentra o seu estudo na favela da Rocinha, a maior da América Latina, onde o turismo já se realiza há 10 anos e se tem revelado um empreendimento lucrativo.
Desde 2006, a Rocinha é ponto turístico oficial e figura nos guias sobre o Rio de Janeiro. Só nesta favela, circulam em média 3.500 turistas por mês, na sua maioria europeus (60%).
Na favela operam pelo menos quatro agências de turismo com os mais diferentes nomes: Jeep Tour, Exotic Tour, Favela Tour e Indiana Jungle Tours, todas com ousadas ofertas de ecoturismo ou turismo cultural.
Seria o "lado alternativo da mais bela e exótica cidade do mundo", segundo a autora, que destaca no estudo a venda da favela como um destino alternativo ao convencional e também a ideia de "que a partir da favela, é possível explicar o Brasil".
"Eles (turistas) acham que ir à favela complementa a experiência de conhecer o Rio, ver o que é desigualdade. Na Rocinha existe, de facto, um mercado, mas há também iniciativas em outras favelas. Cada localidade trabalha um atributo diferente, mas todas partilham a pobreza como a grande atracção".
No estudo, a socióloga refere que muitas das agências se utilizam da "fachada" de projectos sociais. Entretanto, os moradores "não usufruem em pé de igualdade dos benefícios (económicos) gerados pelo turismo".
Há casos de algumas agências que investem no social, mas é "caridade", salienta. Apenas poucos lucram com o turismo de pobreza.
"A maior parte dos turistas acha que vai beneficiar os moradores", o que é uma perspectiva errada, refere, destacando que o "grande interesse" é a pobreza. "O turista quer ver o que não tem no país dele".
Contudo, a ideia de ser "um zoológico de pobre" não é cultivada pela comunidade local. "Os moradores não estão alheios e apostam numa visibilidade positiva. Não há nenhuma rejeição em trazer turistas".
O que falta, defende Freire-Medeiros, é um turismo sustentável que possa gerar renda à comunidade. Ele pode ser visto como uma possibilidade de desenvolvimento económico local e não apenas uma forma de exploração.
A relação favela e violência também é posta em questão quando as agências prometem um "contacto seguro com a violência armada". O risco é parte da atracção, acrescenta.
Para além de ser um negócio rentável, muito solicitado e com um alto nível de satisfação do cliente, a investigadora disse que esta curiosidade que motiva tantos estrangeiros pode servir como um elemento de reflexão.
"É importante o facto de quem vem de fora perceber o contraste entre pobreza e riqueza. Parece curioso, mas (nós brasileiros) convivermos com este contraste, também é perverso", criticou.
Oje/Lusa
Autora de investigação sobre a favela carioca como destino turístico e do livro recentemente publicado no Brasil "Gringo na Laje", a socióloga Bianca Freire-Medeiros defende que a pobreza como mercadoria é um fenómeno global.
"Não é exclusividade do Brasil" e data da década de 1990, esclareceu.
"A curiosidade não é nova, mas eu tento entender o que muda. O turismo na favela tem razão de ser, porque é diferente, uma experiência em primeira-mão com uma dimensão de aventura. Há uma questão mercantil de compra e venda com investimento em marketing", adiantou a investigadora.
Freire-Medeiros, que esteve nas townships (bairros degradados) da África do Sul e em Dharavi, a maior slum da Índia, concentra o seu estudo na favela da Rocinha, a maior da América Latina, onde o turismo já se realiza há 10 anos e se tem revelado um empreendimento lucrativo.
Desde 2006, a Rocinha é ponto turístico oficial e figura nos guias sobre o Rio de Janeiro. Só nesta favela, circulam em média 3.500 turistas por mês, na sua maioria europeus (60%).
Na favela operam pelo menos quatro agências de turismo com os mais diferentes nomes: Jeep Tour, Exotic Tour, Favela Tour e Indiana Jungle Tours, todas com ousadas ofertas de ecoturismo ou turismo cultural.
Seria o "lado alternativo da mais bela e exótica cidade do mundo", segundo a autora, que destaca no estudo a venda da favela como um destino alternativo ao convencional e também a ideia de "que a partir da favela, é possível explicar o Brasil".
"Eles (turistas) acham que ir à favela complementa a experiência de conhecer o Rio, ver o que é desigualdade. Na Rocinha existe, de facto, um mercado, mas há também iniciativas em outras favelas. Cada localidade trabalha um atributo diferente, mas todas partilham a pobreza como a grande atracção".
No estudo, a socióloga refere que muitas das agências se utilizam da "fachada" de projectos sociais. Entretanto, os moradores "não usufruem em pé de igualdade dos benefícios (económicos) gerados pelo turismo".
Há casos de algumas agências que investem no social, mas é "caridade", salienta. Apenas poucos lucram com o turismo de pobreza.
"A maior parte dos turistas acha que vai beneficiar os moradores", o que é uma perspectiva errada, refere, destacando que o "grande interesse" é a pobreza. "O turista quer ver o que não tem no país dele".
Contudo, a ideia de ser "um zoológico de pobre" não é cultivada pela comunidade local. "Os moradores não estão alheios e apostam numa visibilidade positiva. Não há nenhuma rejeição em trazer turistas".
O que falta, defende Freire-Medeiros, é um turismo sustentável que possa gerar renda à comunidade. Ele pode ser visto como uma possibilidade de desenvolvimento económico local e não apenas uma forma de exploração.
A relação favela e violência também é posta em questão quando as agências prometem um "contacto seguro com a violência armada". O risco é parte da atracção, acrescenta.
Para além de ser um negócio rentável, muito solicitado e com um alto nível de satisfação do cliente, a investigadora disse que esta curiosidade que motiva tantos estrangeiros pode servir como um elemento de reflexão.
"É importante o facto de quem vem de fora perceber o contraste entre pobreza e riqueza. Parece curioso, mas (nós brasileiros) convivermos com este contraste, também é perverso", criticou.
Oje/Lusa
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