domingo, 30 de agosto de 2009

HISTÓRIA:Telefone vermelho esfriou a guerra que não aconteceu

USA/URSS-No penúltimo dia de Agosto de 1963, era aberta ligação directa entre os EUA e a URSS. O 'telefone vermelho' tornar-se-ia um dos símbolos da Guerra Fria e o resultado do primeiro acordo bilateral entre as duas potências para evitar a guerra nuclear.
Em plena Guerra Fria foi uma hot line que ligou pela primeira vez Washington a Moscovo. A 30 de Agosto de 1963, a Casa Branca e o Kremlin ficariam à distância de minutos através de uma linha de telégrafo com mensagens encriptadas. A cultura, através de filmes e livros, tratou de mediatizar este aparelho sob o nome de red phone (telefone vermelho), mas na verdade tratava-se de um telégrafo.
Tudo começou com a Crise dos Mísseis de Cuba, no ano anterior (1962). A URSS, ripostando contra a instalação de mísseis norte-americanos na Turquia e contra a tentativa de invasão do país de Fidel Castro, no célebre desembarque na baía dos Porcos, instalou mísseis nucleares na ilha, a escassos quilómetros dos EUA. Foram dias tensos. Jonh F. Kennedy disse aos americanos para se prepararem para o pior e a população começou a construir bunkers. O presidente dos EUA lançou um aviso à URSS de Nikita Khruchtchev de que iria reagir com armas nucleares se a situação não se alterasse.
As negociações foram morosas e revelaram uma má comunicação entre as potências. Foram 13 dias de angústia, em que o temido "carregar no botão" esteve mais perto do que nunca. A guerra esteve por um fio, mas não rebentou. A situação acabou por ser resolvida com a retirada dos mísseis de Cuba.
Na sequência daquilo que podia ter levado a uma III Guerra Mundial, os assessores da Casa Branca alertaram prontamente para a necessidade de criação de uma linha directa entre Washington e Moscovo. Tudo porque, no auge da crise, os serviços terão demorado 12 horas para descodificar uma mensagem de 3000 palavras de Nikita Khrushchev. Ambos os lados ficaram com a percepção de que com uma comunicação directa tudo se teria resolvido mais facilmente.
Assim, a 20 de Junho de 1963, as duas potências fizeram o seu primeiro acordo bilateral em território neutro: Genebra. Segundo o acordo de melhoria de comunicação, apelidado de Hot Line, a rede de fios telegráficos devia ser financiada de igual forma pelas duas potências, sendo as despesas de manutenção igualmente divididas. Nem mesmo a cor atribuída ao "telefone", o vermelho, tinha qualquer conotação política com o comunismo, estando a cor associada ao carácter de urgência. Aliás, o acordo sublinhava que a linha só deveria ser utilizada em caso de emergência. E no dia 30 de Agosto, há precisamente 46 anos, a Casa Branca emitia então um comunicado a dar conta da nova linha que teria como objectivo "ajudar a reduzir o risco de uma guerra por acidente ou erro de cálculo".
John F. Kennedy nunca chegou a utilizar a linha. Os primeiros quatro anos foram de inactividade. Só em 1967, o presidente Lyndon B. Johnson viria a utilizar o red phone, na Guerra dos Seis Dias. A Casa Branca entrou em contacto com o Kremlin, liderado por Leonid Brejnev, para que as movimentações militares das duas potências não entrassem acidentalmente em confronto. Uma frota soviética ao largo do mar Negro e a Sexta Frota da Marinha americana no Mediterrâneo estavam demasiado próximas.
Numa outra guerra israelo-árabe, a de 1973, a linha (já telefónica e por satélite) viria a ser utilizada pelo presidente Richard Nixon pelos mesmos motivos. Hoje, talvez por obrigação dos serviços secretos, desconhece-se se a linha ainda está em funcionamento. Os actuais presidentes dos EUA e da Rússia, Medvedev e Obama, devem ter uma linha de contacto directa ou então várias, já que os recursos tecnológicos são hoje infindáveis.
DN.PT-Por RUI PEDRO ANTUNES

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