Bélgica prepara novo passo rumo à separação
Sondagens apontam para avanço dos independentistas flamengos.
BRUXELAS-Os independentistas flamengos podem vencer as eleições de hoje na Bélgica, com o partido mais votado, a Nova Aliança (conservadores), a obter 24% a 26% do voto na Flandres. Caso se confirmem as sondagens, a votação pode tornar-se decisiva para o futuro do país e agravar as suas divisões linguísticas, pois os vários partidos separatistas flamengos devem somar mais de 40% do voto naquela região do Norte.
O avanço dos independentistas tornará difícil a formação de um Executivo estável, numa altura em que a Bélgica inicia o seu semestre de presidência europeia (em Julho) e quando os mercados vigiam com atenção um país que tem dívida pública a rondar 100% do PIB, entre as maiores da UE.
A Nova Aliança (NVA) praticamente não existia há quatro anos. A formação é dirigida por Bart de Wever, um político de 39 anos que quer alargar a autonomia até conseguir a divisão ordeira do país. O governo deveria transferir para as regiões algumas das tarefas que lhe restam, como saúde, segurança social e justiça, defende Wever, que pode ascender ao cargo de primeiro-ministro.
O líder do NVA defende um modelo confederal em que as regiões (Flandres e Valónia) assumem todas as funções económicas, podendo cooperar na defesa. A separação iria ao ponto de a Flandres entrar na UE. A prazo, diz Wever, a Bélgica deverá "evaporar-se".
Por paradoxal que possa parecer, se a NVA vencer as eleições flamengas, uma das hipóteses de governo passa pela nomeação de um primeiro-ministro belga francófono, no caso o socialista Elio Di Rupo. Desde os anos 70 que não há um francófono a governar o país. A aliança de conservadores flamengos e socialistas francófonos já ocorreu no anterior governo de Yves Leterme, que se demitiu em Abril. Leterme, líder dos cristãos-democratas flamengos (CD&V) não conseguiu manter a frágil coligação e demitiu-se da chefia do governo pela segunda vez.
Este primeiro-ministro com duplo falhanço, cuja gafe mais famosa foi demonstrar que não conhecia o hino belga, desta vez esteve no poder apenas seis meses. Leterme substituíra Herman Van Rompuy, que em Novembro transitou para a presidência da União Europeia.
O nome Rompuy, aliás, está presente nestas eleições, pois a irmã do antigo primeiro-ministro cristão-democrata, Tine Van Rompuy, concorre a senadora por um pequeno partido da esquerda radical (não deve ser eleita) e o filho do presidente da UE, Peter, está incluído nas listas do CD&V, embora em lugar não elegível.
Mas nesta votação há mais modificações em perspectiva, sobretudo na Flandres (onde vivem 60% dos 10,5 milhões de belgas). Os partidos de esquerda deverão perder votos, assim como a extrema-direita da Vlaams Belang. Embora seja obrigatório votar, a abstenção pode atingir 10%.
As sondagens indicam que as diferentes comunidades linguísticas, sobretudo a francófona e a flamenga, desistiram de viver juntas. O Norte está cansado de subsidiar o sul mais pobre, onde a má governação foi a regra. Entre os francófonos, que acusam os flamengos de falta de solidariedade, também cresce o separatismo. Sendo a Bélgica um reino que se vê a si próprio como uma espécie de mini-UE, este não deixa de ser um retrato fiel da actual Europa.
DN.PT-Por LUÍS NAVES
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