Pela primeira vez com um espectáculo próprio: Manel di Candinho partilha o palco com a sua banda “escoladera” e Lou Prince
PRAIA-Manel di Candinho está em Cabo Verde com a sua banda e um convidado especial Lou Prince. Num concerto instrumental, o artista apresenta o seu primeiro espectáculo próprio na capital onde pretende mostrar a força da música instrumental, no Auditório Nacional, dia 5 de Junho, às 22 horas.
Reconhecendo a dificuldade em fazer passar a mensagem num espectáculo com estas características Manuel di Candinho afirma que é necessário ter domínio dos instrumentos e saber chegar ao coração dos espectadores sem mensagem verbal.
Para completar o espectáculo convidou Lou Prince, um cantor de Coracao que além de amigo pessoal é também um amante da música de Cabo Verde.
SAPO: Porque convidar Lou Prince para o acompanhar?
Manel di Candinho: Porque em Cabo Verde ouve-se todo o tipo de música, desde o kuduro ao jazz. O Lou Prince canta músicas dos anos 60 e sei que vai ser bem recebido pelas pessoas e ele tem um grande potencial. Acho que as músicas que ele canta são ideais para completar o meu espectáculo.
S: Manel di Candinho tem trabalhado com vários artistas, quer a nível nacional como internacional. Que influências têm trazido para a sua música?
MC: Através deles passei a conhecer o que eu preciso aprender. O intercâmbio musical fortificou a minha capacidade de entender a música e a importância da minha contribuição, não somente para a música de Cabo Verde como também para a música do mundo.
S: Numa entrevista à Radio Comercial referenciou a influência de Humbertona na sua música. Explica-nos essa relação?
MC: Humbertona não fez muitos trabalhos, mas o que ele fez influenciou-me porque representa exactamente aquilo que desejava. Nos meus primeiros contractos com a música comecei a ouvir Tazinho e Humbertona e convenceram-me que o maior instrumento para apreciar é o violão. O sentimento que o Humbertona põe na música convidou-me a seguir a carreira musical e a adoptar a guitarra como instrumento.
S: E como passou da paixão do violão para o piano que foi aprender na Holanda?
MC: Gosto imenso de instrumentos acústicos porque são mais exigentes. Obrigam-nos a investir tempo para aprender e gosto de desafios difíceis porque sempre que conseguimos ultrapassar a dificuldade é uma vitória. O piano é um instrumento difícil e sempre sonhei tocar qualquer coisa no piano e fui aprender pelo desafio e por ser um instrumento acústico.O piano é, também, um instrumento completo e quando não temos companheiros permite-nos, com duas mãos, fazer uma música completa.
S: Acha importante a profissionalização dos artistas através da aprendizagem?
MC: Profissionalização tem de estar em cada um, temos que ser conscientes e saber o que é ser profissional. Ser profissional não é ser um exímio executante, porque o profissionalismo está no comportamento e na conduta daquilo que se faz. As vezes, não sendo um grande executante conseguimos transmitir a mensagem e isso, também, é fazer boa música. Tocar coisas bonitas e com o coração, nem sempre requer ser um craque.
S: Com dois trabalhos discográficos já foi distinguido pelo governo de Cabo Verde através do ministério da cultura. Como se sente em relação a isso?
MC: Alimentou mais a minha vontade de estar na música, porque através dessa homenagem fiquei a saber que o meu trabalho não passa desapercebido. Se a minha obra está a ser reconhecida fico comprometido com a música de Cabo Verde. Uma homenagem significa que somos valorizados e que nos tornamos um elemento distinto na sociedade, porque não é uma coisa feita por acaso.
S: É requisitado internacionalmente para alguns eventos musicais. Como tem sido esta experiência?
MC: Para isso, há que ter percorrida uma longa estrada. Não é fácil entrar nestes eventos. Ultimamente entrei num dos maiores festivais de jazz da Europa em Breda, na Holanda, e achei estranho ser um único nome lusófono no festival. Para isso, tiveram que conhecer, sentir o meu trabalho e analisar o meu percurso musical para verem se realmente merecia fazer parte desse evento. Fiquei muito honrando e com mais responsabilidade na minha vida profissional.
S: O que é que gostaria de fazer na música cabo-verdiana?
MC: Continuar a trabalhar, a preservar a melodia de Cabo Verde e, se é possível, dar a minha contribuição para melhorar e ser útil para música nacional.
A banda “escoladera” que acompanha Manel di Candinho
A banda que acompanha Manel di Candinho conta com Marijn Van der Linden e Matthias Haffner que já tocam com Candinho há três anos, depois de um encontro numa Jam Session, e Udo Demandt e Daniel Miranda que integraram o projecto mais recentemente.
“Escoladera” é o nome, que a brincar baptizam a banda, porque dizem ser uma escola em que todos têm alguma coisa para aprender. Pela miscelânea de influências culturais e musicais também não seria difícil baptiza-la de outros nomes sugestivos.
Marijn Van der Linden é Holandês e toca cavaquinho e violão e gosta do facto de estar num país onde não é questionado sobre que tipo de instrumento é o cavaquinho. Mas não foge a outra questão: Como é que um holandês aprende a tocar cavaquinho? “Sempre gostei da música brasileira e gostava da guitarrinha aguda”. Do gosto de ouvir veio a necessidade de aprender e através de um DVD aprendeu a tocar sozinho e depois foi ao Brasil ter aulas para “melhorar a técnica”, afirma.
Matthias Haffner e Udo Demandt são alemães percussionistas da banda. Udo também toca a bateria.
Daniel Miranda é do Brasil e toca violão de sete cordas.
É a primeira vez que tocam em Cabo Verde e apesar da diversidade dos países de origem, falam português com sotaque brasileiro, unidos pelo mesmo gosto musical. A escola foi a universidade de músicas do mundo.
Quando questionados sobre como é tocar a música de Cabo Verde, a resposta é unânime: “É muito sentimental, não é música brasileira mas há um pouco de bossa nova com raízes africanas”. “A música de Cabo Verde é “Bom Feeling”. “Conhece a Sara Tavares?”, perguntam.
SAPO.CV-Por Hilda Teófilo
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