segunda-feira, 7 de junho de 2010

ENTREVISTA COM ZENAIDA CHANTRE-EXPRESSO DAS ILHAS

Zenaida Chantre: “Assumi o regresso. Vamos ver como será”

Nasceu no Mindelo, na ilha de S. Vicente. Ainda adolescente foi levada a cantar, nas actividades escolares. Tímida e inexperiente, lá começava uma nova voz no panorama da música cabo-verdiana. Zenaida Chante está de regresso ao país e já confirmou que vai retomar a sua vida de artista. Gravou "Amdjer", seu primeiro álbum, e quer produzir mais. Tem projectos, mas vai dizendo que são "bastante íntimos" e não os pode revelar, por enquanto. "Estou cá e vou dar o meu melhor", assegura ao mesmo tempo que os seus olhos fixam o repórter, que nem uma adolescente que olha para o futuro com convicção e certeza. Há quase 20 anos não regressava às origens. Depois desta revisitação, a artista está encantada e não pode fechar os olhos, a não ser quando se deixa embalar pela morna que, literalmente a consome.
Expresso das Ilhas - Qual o seu sentimento, enquanto artista, em poder voltar às origens e às suas raízes?
Zenaida Chantre - O que lhe posso dizer é que é indescritível. Regressar para as minhas origens é um retorno ao meu passado e é um relembrar de tudo.
Como se sentiu quando recebeu o convite para este concerto?
ZC - Fiquei radiante. Tenho que utilizar estas palavras porque foi o que senti, na verdade. Quando comecei a cantar vinha muitas vezes a Santiago, sempre fui bem acolhida e esta é uma ilha de que gosto muito.
Vem para um espectáculo que assinala os 35 anos da independência e os 550 do descobrimento do país: como encontrou Cabo Verde pois há muito que não vinha.
ZC - Em termos de infra-estruturas está bem melhor.
Tem saudades da terra?
ZC - É natural que sinta saudades. A gente relembra o passado, mas nada de saudosismo exagerado.
Porquê tanto tempo longe?
ZC - São coisas da vida: eu não planeei, aconteceu, mas aqui estou e estou viva.
Quero aproveitar o dom que tenho e partilhá-lo com os meus e não só.
Sentir que estou no país é emocionante, é algo que me faz relembrar todo um percurso.
Em Portugal, como é a sua vida. Está sempre em espectáculos?
ZC - Há um tempo que estava parada. Noutro dia participei num espectáculo no Fórum Lisboa e acredito que seja um ponta pé de saída para vários outros espectáculos.
Assumi o regresso. Vamos ver como será. É natural que depois venham outros convites.
Portanto, está de regresso aos palcos e para continuar.
ZC - Eu quero continuar, mas quero deixar as coisas acontecerem naturalmente. A exigência é para comigo mesma, que é tentar dar o meu melhor.
E em termos de CD's, o que podemos esperar da Zenaida?
ZC - O que podem esperar é que eu venha a gravar outro. No entanto, não vou adiantar porque ainda é muito cedo para o fazer. Neste momento estou mais preocupada com o agora, embora, obviamente, faça projectos que ainda são bastante íntimos e não os possa revelar. Estou cá e vou dar o meu melhor, isso asseguro.
Recorda quando começou a cartar?
ZC - Sim, foi no liceu. Na verdade a minha intenção não era cantar, mas declamar. Num sarau, fizeram questão que cantasse e fui a "vítima". Lá cantei, com muita timidez, as pessoas aplaudiram e nunca mais parei.
Fiquei pasmada na medida em que nunca pensei que as pessoas pudessem gostar de me ouvir cantar.
Tem saudades de Mindelo, da sua terra?
ZC - Tenho e tenho muitas. Costumo dizer que Mindelo e S. Vicente, mesmo que não tenha uma pessoa, eu dialogo com as pedras que eu piso, com a paisagem, com as montanhas. São poéticas: olho para elas e se tiver um pôr-do-sol, inspira-me para umas coisas. Se for durante o dia inspira-me para outras. É uma ilha que até morrer, no último suspiro - para lá dos meus familiares - virá, quanto mais não seja, o Monte Cara.
O que lhe inspira para cantar?
ZC - Sensibilidade. Acredito que os artistas e todo o ser humano, têm uma certa sensibilidade, mas o artista tem a sensibilidade no limite, visto que consegue despertar emoções no outro lado e para tal tem que sentir primeiro e de uma forma radical e sublime, diria. Só uma pessoa sensível consegue captar e transmitir.
E quando está no palco, com uma plateia em frente, qual o seu maior sentimento?
ZC - Vou tentar descrever: olho para as pessoas, sinto a música. Sinto a música e confundo-me com elas: sinto-as (pessoas) como se fossem a Zenaida, e a partir desse momento entro numa esfera que não consigo descrever. Canto a música, sinto a letra, viajo no tempo e quando acordo, de repente, com as palmas do público olho e vejo, afinal não estava só, incorporei as pessoas.
Quando canta fecha os olhos também, a morna sobretudo?
ZC - Costumo fechar, mas isso é o sentir. Elevo-mo de tal maneira que sem querer fecho os olhos.
Estar longe da terra, obriga-a - digamos assim - a cantar Cabo Verde?
ZC - Inconscientemente sim.
Ousaria comparar a morna e o fado?
ZC - Eu não comparo. São duas formas de transmitir sentimentos. Gosto muito do fado, mas não comparo.
Já experimentou cantar o fado?
ZC - Não, nunca tentei. Penso que fiquei um bocado preguiçosa. Por acaso nunca pensei em cartar o fado.
Que mensagem para as pessoas que a lê, agora?
ZC - Valorizem a música o mais que possam. É a nossa identidade. A nossa forma de estar. As letras acabam, de certa maneira, por mostrar o que é o povo cabo-verdiano, a nossa alegria de viver, a forma como lidamos com as condições do nosso país. Somos um povo de alegria, temos uma grande habilidade de fazer as coisas acontecerem, num espírito de criatividade inigualável. Tudo isso está bem expressa nessa nossa expressão musical.
ACG, Expresso das Ilhas

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