ROTERDÃO-Os eleitores holandeses vão às urnas na próxima quarta feira, 9 de Junho, para escolher um novo parlamento. O processo também irá produzir um novo governo de coligação.
Os holandeses voltaram a votar a lápis porque os computadores não garantiam a privacidade dos eleitores. A volta ao voto a lápis atraiu o interesse de democracias de todo o mundo. A Holanda é o primeiro país que retorna ao voto com cédula de papel depois de ter feito a transição para computadores. Outros países poderão seguir o exemplo holandês no futuro.
O recorda-se que governo de coligação caiu por causa do desacordo sobre um prolongamento da missão das tropas holandesas no Afeganistão.
Aproveitamos as eleições legislativas holandesas para ter uma conversa com a deputada do partido democrata cristão(CDA), Kathleen Getrud Ferrier, uma amiga de Cabo Verde apesar de nunca ter ainda estado nas ilhas.
Recorda-se que a deputada holandesa mesmo não tendo nenhum laço familiar com Cabo Verde defende o apoio da Holanda ao desenvolvimento do arquipélago ainda que pertença ao grupo de Países de Desenvolvimento Médio.
Katheleen Ferrier defendeu várias vezes no parlamento holandês, que a ajuda a Cabo Verde não deve ser cortada abruptamente e já apresentou ao Ministério da Cooperação holandesa um plano para ajudar o sector empresarial cabo-verdiano.
No ano passado uma delegação da comunidade cabo-verdiana, composta por mais de 30 pessoas, foi recebida no Parlamento holandês tudo isso a convite da Kathleen Ferrier.
Em nome do Lobby a favor de Cabo Verde na Holanda, seria de bom-tom que se vote na candidata do CDA que é o número 19 da Lista 1, FERRIER, K.G. (Kathleen)
RADIO ATLÂNTICO: O gabinete europeu de estatísticas anunciou na semana passada os dados do desemprego na Europa com um novo aumento na zona euro, e a manutenção a nível da Europa dos 27.Holanda tem a taxa mais baixa do desemprego na Europa. Afinal a última coligação liderada pelo CDA trabalhou bem. Que comentarias faz desses dados?
KATHELEEN FERRIER: Sem dúvida é assim. O fato que a Holanda tem a taxa mais baixa do desemprego na Europa é um resultado directo da política do CDA.
RA: Quem foi o principal responsável pela queda do IV Gabinete Balkenende?
KF: Atrevo-me a dizer-lhe que foi o PvdA.Tratou-se da questão da prolongação ou não da presença dos militares holandeses no Afeganistão, Uruzgan. PvdA queria sair, unilateralmente, sem mais. O ambiente tornou-se tal que não foi mais possível chegar um acordo com o PvdA através de negociações. Simplesmente não escutavam mais argumentos. Assim não dava mais e o governo caiu.
Acho doloroso e vergonhoso que umas semanas após a queda, de repente aparece um novo líder para o PvdA, Cohen, que declarou que o PvdA estaria disposto a considerar uma prolongação da presença Holandesa no Afeganistão... Olha, é difícil mesmo combinar coisas com um partido assim...
RA: 09 de Junho são as eleições na Holanda. Quais os pontos fortes que seu partido tem para apresentar ao Eleitorado?
KF: Estamos vivendo, a nível mundial um período muito difícil, todos sabemos. E necessário tomar medidas financeiras. Meu partido está disposto a tomar as medidas necessárias, porem sempre tomando em conta a posição dos mais necessitados. Segundo meu partido, eles podem confiar sempre na solidariedade do estado.
RA: As sondagens colocam o CDA em posição não muito confortável. A senhora pensa que o seu partido devia mudar de Líder como fizeram o PvdA, SP por exemplo?
KF: O Facto é que nós não mudamos de Líder. Por isso eu não acho interessante esta pergunta. Vamos ver primeiramente, o que acontece nas eleições.
RA: Uma coligação entre CDA, VVD e PVV é avançado como possível para o próximo Gabinete. Como é que o seu partido encara essas sondagens?
KF: Deixamos bem claro que o meu partido não exclui nenhum partido. Numa democracia é o povo quem decide nas eleições. Se o povo votar e fizer grande o PVV, tem-se que tomar em linda de conta o veredicto popular. Porem, nós, CDA dizemos, que, estudando os programas políticos dos partidos PVV e CDA, vai ser seguramente difícil para não dizer impossível, chegar a um acordo com esse partido a não ser que o PVV estivesse disposto a mudar muitas coisas dentro do seu programa.
RA: E o seu partido estaria de novo também a coligar-se com o PvDA? E porque?
KF: Vou responder da mesma forma que fiz anteriormente. Isso também vai depender em primeiro lugar, da voz do povo, do resultado das eleições. Após isso veremos quais coligações são possíveis e quais não. Numa democracia é o povo é quem mais ordena serão os seus representantes na política através do voto que como sabe é livre.
RA: DA é um partido histórico. Aos Cabo-verdianos que vivem na Holanda que mensagem tem o seu partido para eles?
KF: São várias coisas:
-Somos o partido mais grande na Holanda que tem a religião como base da sua política.
-O CDA sempre tem se preocupado do desenvolvimento de Cabo Verde. Agora Cabo Verde -daqui a pouco, vai terminar receber fundos do Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento. Eu acho que agora precisamos fazer um plano, uma fase intermédia para estimular o sector privado, o turismo etc.em Cabo Verde. Falei sobre isso com o Ministro em vários debates (O que se pode consultar no website do Parlamento"Tweede Kamer"). Para mim é uma missão pessoal. Tenho já um plano elaborado para Cabo Verde que já apresentei ao Ministério da Cooperação. Oxalá que seja reeleita nas eleições e oxalá que o ministro aceite o meu plano para ajudar a acelerar o crescimento económico do Cabo Verde.
-Meu partido pensa que a participação de cada um aqui na Holanda é fundamental. Por isso investimos na educação e damos uma atenção especial para estudantes e crianças que precisam de mais apoio. Também investimos no mercado laboral, para que seja possível achar trabalho, quem está desempregado. Posso dizer-lhe ainda que o meu partido tem uma visão positiva: partimos do princípio do que pode uma pessoa, e não o contrário. Queremos facilitar a participação de cada um, assim usando a forca que temos na nossa sociedade; seguramente a forca que é a nossa diversidade cultural existente na nossa sociedade.
RA: A abstenção é uma grande ameaça para a Democracia. Porque é que aconselha as pessoas a votarem?
KF: Essas eleições são muito importantes para o nosso país, nos encontramos numa encruzilhada: qual caminho escolhemos? O de um pais em que não tem mais confiança, na qual diferentes grupos se tratam um ao outro como uma ameaça? Ou escolhemos o caminho de um País na qual em tempos difíceis, trabalhamos juntos, conscientes de que precisamos uns dos outros.
Além disso, eu pessoalmente morei sete anos no Chile, no tempo da ditadura do Geral Pinochet. Ali eu aprendi profundamente o que significa morar nuns pais no qual o povo não tem voz. Aqui, graças a Deus, temos este direito democrático. Eu acho inaceitável que uma pessoa não use este direito para votar. Usar a voz não é uma naturalidade, como muitos pensam...
RA: Segundo algumas pessoas próximas do seu partido caso CDA permanecer na coligação a senhora pode ser um dos ministeriáveis. Caso for convidada para um cargo no próximo governo aceitaria?
KF: Aguardemos o que acontece nas eleições primeiro...
RA: Para terminar Junho é o mês geralmente dedicado as crianças em muitos Países. O que pensa do trabalho infantil no mundo?
KF: Como talvez saiba eu trabalhei dez anos na cooperação com a América Latina, vivi, em países como o Chile e o Brasil. Uma coisa que me afecta muito, toca-me no coração, é ver crianças que têm responsabilidades que não coadunam com a sua idade. Isso acontece quando no caso do trabalho infantil, mas também por exemplo com crianças que tem que cuidar de si mesmos, por causa da emigração da mãe ou dos pais. Sempre lutei contra isso. Entendo muito bem que não é questão de simplesmente proibir que crianças trabalhem. Tem que ter uma alternativa, tem que ter programas que tomem em conta não só da criança, como também da família, que precisa de meios assim como sensibilizar os empregadores, para que pelo menos mudem as condições do trabalho. O mais importante é que a criança tenha a possibilidade de estudar, preferencialmente só estuda. Mas em casos que fosse realmente necessário, combinar estudo e trabalho duma forma digna e aceitável. Sei que existem a este respeito, programas com muitos êxitos do ILO, International Labour Organization.
RA:O que a Holanda pode fazer para que os direitos das crianças sejam mais respeitados no Mundo?
KF: A Holanda já é conhecida, ao nível internacional, como um dos lutadores mais consistentes para que os direitos das crianças sejam mais respeitados no Mundo. É uma questão de pedir atenção aos governos dos países nos quais é aceite que crianças trabalhem para colaborarem em programas como os da ILO ou então fazer questão de informar ao consumidor holandês para que não compre produtos que foram produzidos por crianças. Neste sentido, também a nível Europeu é importante tomar medidas para que nos mercados Europeus não entrem nada feito com exploração do trabalho infantil. Mais eu digo: não esquece o poder do consumidor: se ele não comprar estes produtos isso provoca um grande impacto na luta para que sejam respeitadas os direitos das crianças.
PERFIL
Kathleen Getrud Ferrier nasceu a 8 de Março de 1957 em Paramaribo, Suriname. É Casada e mãe de dois filhos. Professa a religião Protestante (Igreja Reformada Holandesa-Calvinista). Estudou Literatura na "Universidade de las Americas" em Cholula no México (1980) e depois licenciou-se em Letras em 1984 em Leiden (Holanda) com especialidade nas línguas de espanhol e Português e ainda cooperação e desenvolvimento. De 1981 a 1984 foi Professora Assistente de Cooperação e desenvolvimento em Leiden. Desempenhou várias funções importantes no seio de organizações não governamentais ligadas a igreja. Foi Secretária Geral para a cooperação das igrejas holandesas de 1994 a 2002. Foi membro da Associação das igrejas migrantes de 1996 a 1999. Trabalhou para a SOW (igrejas de Migrantes). Trabalhou em várias ONGS na América Latina nomeadamente no Chile e no Brasil.
No seu partido, o CDA, desempenhou várias funções de destaque de 2002 a 2006: foi Vice-presidente para implementação do programa do seu partido de 2002 a 2006. Vice-presidente da comissão para as relações Externas. Membro da Comissão permanente para Assuntos Sociais, Ensino, Mercado de Trabalho, Cultura, Educação e Ciências, Desporto etc. É porta-voz do Grupo Parlamentar do CDA para a área de Politica de Família, Cooperação e Desenvolvimento. É membro da comissão das relações externas do Parlamento. Membro da Fundação "SELOS" para protecção das Crianças. E ainda pertence ao Grupo de Trabalho para a democracia e religião; É Conselheira do Parlamento em questões relacionadas com a América latina.
Escreveu vários livros de entre os quais se destaca "Igrejas dos Imigrantes, confiança e Aceitação".
Como Hobby a deputada gosta de ler, escrever, pintar e cozinhar juntamente com os filhos.
NORBERTO SILVA-RÁDIO ATLÂNTICO
ROTTERDAM-HOLANDA
http://www.expressodasilhas.sapo.cv/pt/noticias/detail/id/17515
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