AMSTERDÃO:A ajuda internacional ao desenvolvimento faz sentido? Esta questão foi discutida numa conferência em Amesterdão no último final de semana. Um dos participantes foi o sócio-economista brasileiro Marcos Arruda, do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul, e membro do Instituto Transnacional, com sede em Amesterdão.
Na sua passagem pela Holanda, Marcos Arruda concedeu esta entrevista à Radio nederland sobre o tema. A entrevista aconteceu antes das eleições parlamentares holandesas, que aconteceram na quarta-feira dia 9 de Junho e deram vitória ao partido liberal-conservador VVD.
Durante a campanha eleitoral, alguns partidos – inclusive o partido vencedor – defendiam que a ajuda internacional estivesse entre os primeiros cortes a serem feitos no orçamento.
“O que está em questão hoje é uma redefinição do sentido da ajuda internacional. Por um lado fazer a crítica de tudo o que tem sido a ajuda internacional ao longo destas décadas - instrumento de dominação, instrumento para facilitar a entrada de transnacionais dos países chamados doadores para os países receptores, usando ajudas condicionadas. O instrumento chamado de ajuda, que são os créditos, são selectivos. De um modo geral, países que não são considerados democráticos porque não têm a liberdade de mercado exigida não estão na lista dos que recebem créditos bilaterais ou multilaterais, e por aí vai”, destaca Marcos Arruda, citando uma série de problemas da cooperação internacional como é feita hoje.
Nova proposta
Mas Arruda enfatiza que a Holanda é justamente um dos poucos países com uma postura diferente:
“O actual governo holandês tem gerado um debate muito interessante, colocando uma nova proposta de que a ajuda teria que ser vista a partir do seu objectivo maior, que seria o apoio a um desenvolvimento auto-determinado, autogestionário, endógeno dos países que recebem esta ajuda.”
O economista brasileiro vem batendo nesta tecla há anos, mas o debate internacional só cresceu a partir da crise:
“Diante da crise global financeira - que podemos afirmar é que é uma crise do próprio modo neo-liberal, do regime neo-liberal de organizar o capitalismo - os países estão sendo obrigados a repensar qual é o tipo de ajuda internacional que tem prevalecido e que não tem funcionado. E também pensar por que é que o que pareciam ser crises características do hemisfério sul agora estão se voltando contra os próprios países altamente desenvolvidos e industrializados.”
Marcos Arruda também defende que a Holanda seja mais activa neste debate dentro das instituições financeiras multi-laterais:
“Principalmente no Banco Mundial, onde a Holanda é um aportador importante de recursos, e na União Europeia, para reformular a política de cooperação internacional em linhas muito mais respeitadoras da soberania do hemisfério sul. Muito mais no sentido de reciprocidade do que benefícios unilaterais através de migalhas que são trazidas para o hemisfério sul.”
Bom e mau exemplo
Arruda cita como um bom exemplo de cooperação internacional o que tem sido feito entre os países da Alba – Alternativa Bolivariana para as Américas -, que reúne Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia e Cuba:
“É uma outra forma de conceber a cooperação internacional, onde a reciprocidade é um valor, um princípio. E quando a reciprocidade se dá entre atores desiguais você introduz um outro princípio que é o princípio da proporcionalidade, com o qual se obriga quem tem mais a ceder mais e quem tem menos a ganhar mais. Assim se caminha no sentido de uma igualização de condições de oportunidades.”
O exemplo negativo, ele ressalta, está vindo do Brasil:
“O BNDES está financiando empresas brasileiras para elas se tornarem transnacionais e operarem na África e na América Latina e Caribe com a mesma lógica expansionista e controladora das empresas europeias e norte-americanas na América Latina. Isso é lamentável. Não são todos os projectos de ajuda que são assim, mas alguns são e já denotam uma aspiração a um domínio sub-imperial do Brasil em relação a estes continentes mais pobres.”
RNW em Português-Por Mariângela Guimarães (Foto: A Grande Partida)
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