segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ALEMANHA:ALEMANHA VAI SER GOVERNADA POR UMA NOVA COLIGAÇÃO CHEFIADA POR MERKEL

ANGELA MERKEL A VENCEDORAS DAS ELEIÇÕES
O principal derrotado: Frank Walter Steinmeier, o líder dos dos sociais-democratas.
Guido Westerwelle, o artífice do triunfo dos Liberais

BERLIM-O Governo da Alemanha vai mudar: da grande coligação entre a CDU e o SPD, Berlim vai passar a ter um Executivo liderado pela chanceler Angela Merkel, mas com os seus parceiros de coligação preferidos, os liberais do FDP. Os grandes partidos foram castigados, atingindo mínimos históricos, e os partidos mais pequenos ganharam força. O grande vencedor: Guido Westerwelle, o líder liberal. O principal derrotado: Frank Walter Steinmeier, o líder dos dos sociais-democratas.
Ao sairem as primeiras sondagens, a sede da CDU está em suspenso. Mulheres bem maquilhadas e de saltos altos e homens de fato têm os olhos colados nos ecrãs espalhados pelo edifício que vão mostrar as projecções. O primeiro número dá 33,5 por cento à CDU/CSU – algumas pessoas batem palmas, timidamente. Segundo número: 22,5 por cento para o SPD – a sala irrompe em aplausos, gritos de entusiasmo, alguma euforia. E 15 por cento para os liberais – mais aplausos entusiastas, sorrisos, quase se ouve um suspiro de alívio: torna-se claro que, mesmo que pequena, há uma vantagem para a coligação preto-amarelo (as cores da CDU e do FDP).
Steinmeier foi o primeiro a discursar: apareceu perante os apoiantes para admitir uma “amarga derrota” e garantir que, apesar do partido passar para a oposição, vai continuar a defender a social-democracia. “Vamos ser uma oposição vigilante”, disse. O SPD obtém um resultado historicamente desastroso: nunca teve uma percentagem tão baixa nos últimos 60 anos.

Voltar ao trabalho
De seguida falou Angela Merkel. A chanceler foi recebida com gritos “Angie, Angie”, de jovens com camisolas da CDU, e muito aplaudida. Mas fez um discurso rápido.
“Conseguimos atingir uma sólida maioria para fomar um novo governo da CDU/CSU e do FDP”, congratulou-se – era o que vinha a pedir durante a campanha. Mas Merkel ignorou, no entanto, o líder liberal, o grande vencedor destas eleições, nem sequer o nomeando no seu discurso.
“Quero ser a a chanceler de todos os alemães”, disse ainda Merkel. “Agora quero voltar depressa ao trabalho, que há muitos problemas para resolver”, concluiu, antes de sair do palanque, acenando.
Uma vitória é uma vitória é uma vitória”, garantia Hans Juergen, um membro do partido, na sede. Alguns apoiantes comemoravam com espumante Rötkapchen (Capuchinho vermelho), um dos poucos produtos da antiga RDA que não só sobreviveu como se tornou um champanhe popular em toda a Alemanha. Mas a CDU obtém o seu pior resultado desde 1949 (nessas eleições teve ainda menos, 31 por cento), e ontem o destaque ia para Guido Westerwelle, o líder liberal – que com 15 por cento consegue um resultado excelente – o melhor na história do partido.
À hora do fecho desta edição, a estação de televisão ARD estimava uma maioria de 19 deputados para a coligação preto-amarelo (com 330 deputados num Parlamento de 620).
Analistas esperam que o próximo governo preto-amarelo corte nos impostos – e deverá também fazer decrescer as prestações de apoio social. Uma extensão do prazo para o fim das centrais nucleares (que estão a ser desactivadas progressivamente até 2020) parece certa – Merkel tem-no defendido e o FDP apoiaria mesmo que fosse usada mais energia nuclear no país.
Mas ninguém arrisca exactamente o que poderá sair desta coligação: alguns analistas dizem que Merkel é demasiado cautelosa para grandes reformas drásticas em tempo de crise – e cortar o apoio social em tempo de crise será sempre uma medida que arriscará uma forte oposição –, outros acham que poderá mostrar agora a sua verdadeira face reformista. Contrastando com a seriedade de Merkel, Westerwelle é um político conhecido pela sua faceta populista, que entretanto tentou moderar dando uma imagem mais séria. Deverá agora ocupar o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros.

A Esquerda e os Verdes
Outros vencedores são o partido A Esquerda (Die Linke), de Oskar Lafontaine, que junta dissidentes do SPD, antigos responsáveis do partido no poder na ex-RDA e várias correntes como trotskistas ou maoístas – as sondagens davam-lhes por volta de 11 por cento, obtiveram 12,5, e os Verdes, que também aumentaram a sua quota de votos, com 10 por cento.
O SPD, que vai passar para a oposição pela primeira vez desde há 11 anos, deverá agora entrar num período de reflexão sobre a catástrofe de ontem. Steinmeier deverá ser substituído por outro líder, provavelmente alguém da nova geração, e o partido deverá repensar a sua aproximação à esquerda, e a política de aliança com Die Linke (que tem recusado sempre a nível federal, coligando-se apenas nos governos dos estados-federados).
Os dois grandes partidos estão numa trajectória descendente – CDU e SPD obtiveram agora um total de 56 por cento, comparado com 69 por cento em 2005 – e os pequenos partidos vão ser cada vez mais essenciais na construção de coligações: há mesmo analistas que dizem que esta foi a última eleição com uma coligação de dois partidos no Governo.
PÚBLICO.PT-Por Maria João Guimarães

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