quinta-feira, 9 de julho de 2009

ENTREVISTA COM FERNANDO MARQUES PEREIRA PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO BANCO INTERATLÂNTICO DE CABO VERDE

FERNANDO MARQUES PEREIRA
O Jornalista José Sousa Dias, da agência Lusa entrevistou Fernando Marques Pereira presidente da BI.
com a devida vénia reproduzimos aqui esta interessante entrevista.

PRAIA-Cabo Verde é um bom ponto de partida para as empresas portuguesas que estejam a iniciar a internacionalização, diz o presidente do BI.
Aos 48 anos, Marques Pereira, natural de Lisboa, não tem dúvidas: Cabo Verde é uma aposta ganha do Grupo Caixa. Os resultados do Banco Interatlântico provam-no. E investir em Cabo Verde é fácil, garante o licenciado em Gestão de Empresas, pelo ISEG. A AICEP ajuda a abrir as portas, o banco apoia e a legislação cabo-verdiana é adequada, o que traz vantagens para os investidores portugueses.

J.S.DIAS-O Banco Interatlântico fez a 1 de Julho 10 anos em Cabo Verde. Valeu a pena?
F.M.PEREIRA-Hoje parece-me inequívoco que a aposta do Grupo Caixa Geral de Depósitos em Cabo Verde foi amplamente ganha. Temos uma forte presença no sector bancário, através do Banco Interatlântico e do BCA, no sector segurador, através da Garantia e no capital de risco, através da Promotora.Temos conseguido atingir os objectivos a que nos propusemos, nomeadamente com a implementação da segmentação, através da criação dos Gabinetes de Empresas e Particulares, da aposta nos meios automáticos com quotas acima dos 20% nas ATM e de 28% nos POS colocados junto dos comerciantes, e na inovação de produtos como o lançamento do Mobile Bank e de obrigações subordinadas.
O Banco Interatlântico tem registado resultados acima das expectativas. Acha que há margem de progressão?
Podemos, felizmente, afirmar que crescemos acima do mercado em especial nos segmentos que, para nós, são mais relevantes, ou seja, os de empresas e de particulares de rendimento médio/alto.No segmento empresarial, temos quotas de mercado à volta dos 17%, acima da nossa quota global, que se situa nos 13%, e esse é, para nós, o resultado mais significativo e o que mais nos entusiasma a prosseguir.Neste âmbito, recordo que, no quadro da visita do primeiro-ministro português a Cabo Verde em Março último, a CGD e o BI assinaram com a Sociedade Financeira para o Desenvolvimento (SOFID) um Memorando de Entendi-mento com vista à criação de uma Linha de cinco milhões de euros destinada a fomentar a criação de empresas mistas luso/cabo-verdianas com foco na criação de emprego e transferência de know-how. O destaque vai para os sectores secundário, energético, turístico e pescas. Estamos a ultimar os termos do acordo e pensamos brevemente fazer a sua apresentação.Por outro lado, estamos a acompanhar com muito interesse o desenvolvimento dos projectos das Câmaras Municipais e consideramos que, nesse segmento, existem oportunidades de crescimento face ao volume de investimentos necessários ao nível das infra-estruturas e da habitação.
E como avalia os resultados obtidos em 2008, do ponto de vista de crescimento do banco?
Apesar das condicionantes macroeconómicas negativas que já eram sentidas no segundo semestre do ano, o BI encerrou o exercício de 2008 com um resultado líquido de 212,48 milhões de escudos cabo-verdianos (1,92 milhões de euros), o que representou um crescimento de 27% face ao ano transacto. A contribuir para o resultado esteve o assinalável crescimento da actividade, com uma subida do crédito em 47% e dos recursos de clientes em 14%, a que devemos ainda adicionar os 500 milhões de escudos (4,5 milhões de euros) captados através da emissão de obrigações subordinadas, que reforçou os fundos próprios do banco e colocou o rácio de solvabilidade no final do ano em 13%, bastante acima dos mínimos legais exigíveis. Realço também os indicadores de rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 20,32% e de rentabilidade do activo (ROA), 1,39%, que registaram acréscimos face a 2007 e colocam o BI com indicadores muito favoráveis mesmo quando comparados em termos internacionais.
As empresas portuguesas e cabo-verdianas continuam a recorrer ao banco para os investimentos?
As empresas constituem o nosso principal segmento de actuação. É no segmento empresarial que está concentrado 70% do nosso crédito e cerca de 50% da captação dos nossos recursos. Temos clientes de todos os sectores de actividade e com estruturas de capital também diversificadas. Criámos um Gabinete para acompanhar especificamente o segmento, procurando satisfazer com maior qualidade as necessidades dos nossos clientes empresa, quer no que concerne à prestação dos serviços bancários do seu dia-a-dia como, por exemplo, o pagamento de salários, quer à gestão de tesouraria e de procura de investimentos de médio e longo prazo.Estamos presentes no apoio a diferentes projectos portugueses, dos quais destacaria a hotelaria, distribuição, telecomunicações e o sector da educação e ensino superior.
A crise económica e financeira mundial prejudicou as actividades do banco?
A crise económica tem tido impacte em Cabo Verde, em especial no tocante à imobiliária turística, onde se assiste a uma forte redução do volume de vendas e, consequentemente, ao decréscimo do investimento directo estrangeiro.Esta situação cria obviamente uma redução da actividade económica, com impacte em todos os sectores de actividade, quer pela redução do volume de vendas quer pelo aumento da morosidade nos pagamentos, aspecto a que a banca não está, obviamente, imune. O aumento do investimento público, com o lançamento de diversos projectos de alguma envergadura, e a manutenção da ajuda internacional ao desenvolvimento tem permitido manter, no entanto, um ritmo de actividade ao longo deste ano que não apresenta grandes divergências face ao ano transacto.
O sector da banca em Cabo Verde tem sabido estar à margem dessa crise ou também está a ser afectado?
Nenhum sector está imune, embora a banca cabo-verdiana, pelos seus adequados níveis de solvabilidade, liquidez e estrutura de carteira, não sofra dos problemas que afectaram, e ainda afectam, nalguns casos, alguns sistemas bancários de países mais desenvolvidos.A redução da actividade económica, o aumento do coeficiente de reservas de caixa em Fevereiro deste ano e a reforma do imposto do selo em Janeiro criaram, no entanto, condições mais gravosas para o exercício da actividade.Existe assim um aumento dos riscos na economia que os bancos têm de interpretar e incorporar nas suas decisões, o que pode motivar, em função dos níveis de risco dos clientes, alguns agravamentos nas condições de trabalho com os mesmos.
O que vai fazer no futuro? A expansão das agências é para continuar?
O Banco Interatlântico aprovou em Março deste ano o seu Plano Estratégico, que reforça a sua característica de banco universal, mas especializado no segmento empresarial e no segmento médio/ alto da população cabo-verdiana. O nosso objectivo primordial é continuar a corresponder bem às necessidades destes dois segmentos que, para nós, são os mais relevantes. Também queremos ser reconhecidos pela inovação e pela apresentação de novos produtos. Por isso é que vamos continuar a trabalhar juntamente com o Governo e o com o Banco de Cabo Verde no desenvolvimento de novos produtos financeiros como o leasing e o factoring que, embora estejam regulados em Cabo Verde, pensamos que precisam ainda de algumas melhorias para que possam, de facto, ser oferecidos no mercado.No que toca à à rede de agências, vamos abrir duas novas unidades, a primeira das quais na cidade da Assomada, a nossa primeira agência no interior de Santiago. Ainda este ano abriremos a nona agência que ficará localizada na Achada Grande, na Cidade da Praia, acompanhando o forte desenvolvimento que aquela zona vem apresentando na instalação de empresas.
Que condições/garantias/vantagens pode oferecer aos empresários portugueses que queiram investir em Cabo Verde?
Para as empresas portuguesas, em especial as que são clientes do Grupo Caixa Geral de Depósitos em Portugal, procuramos dinamizar um conjunto de facilidades adicionais que passam por utilizar o conhecimento já existente no Grupo para acelerar a análise de risco e a eventual atribuição de condições de trabalho. Mas a todas as empresas, e não só as portuguesas, oferecemos um serviço de qualidade a nível de prestação dos serviços bancários, com particular ênfase no atendimento, diversificação de produtos e serviços e nível de automatização dos meios de pagamento.A existência da Direcção de Negócio Internacional no Grupo Caixa, que dinamiza o negócio e a venda cruzada entre as diferentes entidades do Grupo espalhadas pelo Mundo, permite também aos empresários recolher um conjunto de informação prévia sobre o mercado de Cabo Verde, e até a preparação de visitas que facilitem a percepção do mercado e a procura de parcerias, onde temos também a preciosa ajuda da AICEP em Cabo Verde, que está a fazer um excelente trabalho.
Que conselhos daria a um empresário português para o convencer a investir em Cabo Verde?
O mercado de Cabo Verde, apresenta diversas vantagens para os empresários portugueses, em especial para os que pretendem iniciar uma estratégia de internacionalização. Temos a língua que é comum, mas também uma legislação muito próxima da portuguesa, o que facilita nos aspectos burocráticos, que não são muito diferentes dos já dominados pelas empresas em Portugal. Apesar de ser um mercado de dimensão limitada, ainda existem oportunidades em diversos sectores, onde destacaria a distribuição, saúde, indústria ligeira em geral e as tecnologias da informação, bem como a possibilidade de utilizar o território de Cabo Verde como base para uma expansão dirigida aos países da África Ocidental.Por outro lado, tem havido um esforço de modernização do país que permite, por exemplo, criar uma empresa em muito pouco tempo utilizando a instituição Casa do Cidadão, que tem um nível de desenvolvimento próximo, e nalguns casos mesmo superior, ao atingido pelas Lojas do Cidadão em Portugal. Por último, realçava a estabilidade política, económica, social e cambial (existe uma paridade com o euro) e a Parceria com a União Europeia, que é um processo que conduzirá certamente Cabo Verde a padrões normativos e técnicos ao nível das melhores práticas europeias.
OJE/LUSA

1 comentário:

  1. A Carisma do doutor é aqui totalmente demonstrado. Cabo Verde tem o apágio sortudo de ter um homem dessa craveira

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