sábado, 12 de setembro de 2009

CULTURA:Livros digitais do Google causam controvérsia

LIVROS DIGITAIS DA GOOGLE
Seus olhos tremulam quando mostra ao livreiro atrás do balcão um papel amassado: “Você tem este livro?”, ele sussurra. Para este amante de livros, a procura por uma edição rara dá quase tanto prazer quanto o próprio livro. “Eu mataria para encontrar o livro que quero”, ele brinca.Mas do outro lado da rua, em frente ao sebo de quatro andares no centro de Bruxelas, executivos do Google estão preparando um império global de livros digitalizados que promete revolucionar nossa maneira de ler.
“Se depender de mim, daqui a quinze anos poderemos entrar em uma livraria e comprar qualquer livro jamais publicado, tanto em forma digital quanto como livro impresso. Algumas pessoas irão comprar mais livros digitais, outras mais livros tradicionais e outras os dois tipos”, diz Dan Clancy, diretor da Google Books Engineering.
Clancy esteve com a Comissão Europeia esta semana numa reunião crucial para persuadir os cépticos editores e bibliotecas europeus a participar do projeto Google Books. Muitos na Europa têm medo que um acordo judicial nos Estados Unidos abra o caminho para que o Google se transforme num ‘monstro’ com poderes demais no mundo editorial.
Direitos autorais
Pelo acordo judicial proposto nos EUA, o Google teria direitos exclusivos de venda para livros fora de catálogo e obras livres de direitos autorais – um estoque global de cerca de nove milhões de títulos. O medo é que este acordo afecte diretamente os livros europeus também. “Se a cópia de um livro publicado na Europa chega a uma biblioteca norte-americana, o Google poderá escaneá-lo mesmo que os direitos não tenham sido vendidos no mercado norte-americano, prejudicando a oportunidade da própria editora comercializar estes direitos”, alerta Angela Mills Wade, do Conselho de Editores Europeus.
No início desta semana, o Google tentou acalmar estes temores removendo todos os livros ainda à venda na Europa do mercado on-line norte-americano. Mas muitos editores continuam desconfiados.
“O problema é que é muito complicado para qualquer editor controlar quais os livros que o Google já pôs on-line”, disse Bernard Gerard, representante da associação dos livreiros da Bélgica, comentando que “levaria anos” para que o Google atendesse às demandas de direitos autorais europeias, que variam de país para país.
“O direito a digitalizar livros é do editor”, explica Gerard. “Nenhum livro deveria estar on-line sem uma negociação prévia com o editor. Se isso não acontece, há uma clara violação.”
Guerreiro cultural?
Entretanto, outros abraçaram o projeto, incluindo a editora Macmillan e bibliotecas de universidades como a de Gent, na Bélgica, e a Bodlean, em Oxford, Inglaterra. E eles dizem que já puderam registrar um aumento na procura. “Se você é estudante e quer ler apenas um capítulo, o que é com frequência o caso, é mais fácil e mais rápido procurar on-line. Você não precisa ir até a biblioteca e perder tempo procurando por um livro”, diz Dan Clancy, do Google.
Surpreendentemente, muitos livreiros também estão entusiasmados e acreditam que o Google irá contribuir para o patrimônio cultural.
Mas o amante de livros no sebo de Bruxelas é menos entusiasta. “Eu amo o toque, a sensação e o cheiro de um livro. Quero ser capaz de pegá-lo da minha estante. É uma paixão. Um livro digital não seria nunca o mesmo.”

Google, o gigante dos livros- O Google fez um acordo de classe no ano passado com a liga de editores dos EUA em um processo de violação de direitos autorais iniciado em 2005- Neste acordo, o Google concordou em pagar 125 milhões de dólares para resolver todas as questões pendentes e a dar 63% do que arrecadar aos editores e autores. O restante fica com o Google.- Livros escaneados que não estão mais em catálogo, em mais de 400 línguas, podem ser comprados on-line, compondo 3% do total de vendas de livros.
RNW-Por Vanessa Mock

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