domingo, 6 de setembro de 2009

ENTREVISTA COM MALAM BACAI SANHÁ

BISSAU-A três dias de tomar posse, o recém--eleito Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, concedeu uma entrevista ao DN na qual fala das suas prioridades e da relação com os militares. O novo Presidente apostará no combate aos narcotraficantes, como forma de limpar a imagem que a Guiné-Bissau tem no mundo.

Na terceira candidatura obteve a vitória que sempre esperou...
Claro, nunca desisti porque a população me via como a única a esperança do país. Portanto sabia que na terceira candidatura era a minha vez. Todavia, a verdadeira era de Malam Bacai Sanhá só começa a 8 de Setembro, quando for empossado. Esperamos que seja uma era de paz, estabilidade e reconciliação. Pois estas são condições básicas para o desenvolvimento do nosso país. Chegou a altura de pararmos de nos matar uns aos outros. É tempo de uma nova esperança para a Guiné-Bissau como um país onde haverá liberdade de expressão e de filiação partidária, para que possamos criar um espaço de coabitação para todos os cidadãos.
Quais são as suas prioridades?
A situação da segurança interna está, neste momento, abalada com os acontecimentos de Março [assassínio do chefe do Estado-Maior Tagme Na Waye e do presidente Nino Vieira] e Junho [assassínio do candidato presidencial Baciro Dabó e do deputado Helder Proença]. Vamos procurar a forma adequada de gerir esta situação e transformar este período negro da nossa história numa era de reconciliação. Vamos deixar a violência para trás, o momento é de diálogo e de conhecermos as nossas diferenças de mãos dadas.
A Guiné-Bissau é vista como um narcoestado. Que medidas vai tomar?
Não sei se a Guiné já chegou a ponto de ser um narcoestado. É apenas a placa giratória de drogas que passam para a Europa. É este procedimento que urge parar. Mas, um observador atento poderá constatar que em 2008, contrariamente a 2006 e 2007, a situação já não era assim tão escandalosa. A partir de agora, vamos tomar medidas como a qualificação de quadros de Polícia Judiciária, entidade responsável pelo combate aos narcotraficantes, equipando-os com meios técnicos modernos que permitam agir em tempo útil para evitar as acções dos traficantes.
A reforma da defesa e segurança é considerada pela comunidade internacional como essêncial para o relance da Guiné-Bissau...
Há um programa de reforma em curso. Mas, para mim a reforma não é somente no sector da defesa e da segurança, mas também na função pública. Assim sendo, temos que promover uma reforma funcional com quadros qualificados capazes de gerir a nossa administração pública. Não é possível que uma pessoa que pretenda criar, por exemplo, uma empresa esteja seis meses ou um ano à espera dos documentos necessários. Mas, tudo isso requer recursos internos e apoios da comunidade internacional.
Como vai lidar com os militares, considerados um factor de instabilidade na Guiné-Bissau?
Garantir que não haverá mais problemas, seria exagero. Mas a grande verdade é que estou bastante satisfeito após ter sido declarado vencedor das presidenciais, porque pude constatar que as Forças Armadas estão, hoje, conscientes de que o mal que acontece no país tem sido im- putado aos militares. Acredito que a sociedade castrense está agora preparada para limpar a sua imagem. Apelo a todos para que se sintam res- ponsáveis pela estabilização política e desenvolvimento do nosso país.
Há quem diga que nomeará Umaro Djaló ou Tchambu Mané como chefe de Estado-Maior das Forças Armadas...
Em termos físicos Tchambu Mané não reúne as condições necessárias para ser um chefe de Estado-Maior das Forças Armadas. Ele tem uma fractura no braço. Por outro lado, digo-lhe que não vou nomear nem um nem outro, porque cabe ao Governo propor ao Presidente da República uma figura de confiança dos militares para assumir a chefia de Estado-Maior das Forças Armadas.
Fala-se no envio de uma força de interposição para a Guiné-Bissau...
A meu ver, isso faz parte de passado. Claro que se falou do envio desta força no princípio de Junho, quando ocorreram os assassínios de Baciro Dabó e Helder Proença. Na altura o país preparava umas presidenciais que ninguém acreditava serem pacíficas. Por outro lado, apesar das dificuldades, temos as forças armadas em condições de garantir a segurança na Guiné-Bissau. Creio que não há necessidade de recorrermos a forças estrangeiras, sempre vistas como forças de ocupação.
Vai influenciar a remodelação governamental prevista para depois da sua tomada de posse?
Não! Não! Não vou influenciar nada. O primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, conhece os erros de funcionamento dos membros do seu Governo. Portanto, é ele que fará a remodelação.
Quando será promovida a tão falada conferência da reconciliação nacional na Guiné- Bissau?
Claro que vamos promover uma conferência nacional sobre a reconciliação na qual convidaremos os nossos cidadãos na diáspora a participarem. Aliás, a Assembleia Nacional já tem uma iniciativa neste sentido. Nós só vamos impulsionar esse projecto porque é preciso encontrar um terreno para os cidadãos guineenses dialogarem sobre os problemas que afectam a estabilidade governativa no seu país.
Os últimos presidente da Guiné não tiveram relações muito próximas com Portugal. O que se pode esperar dos próximos anos?
As nossas relações com Portugal são culturais e históricas. Claro que houve momentos difíceis. Mas, isso são excepções. Os grandes políticos mundiais dizem que nas relações entre Estados não existem amigos. Quando os interesses divergem, todos ficam de costas voltadas e quando convergem todos andam de mãos dadas.
Em que sectores Portugal poderia ser vital para o relance do desenvolvimento da Guiné-Bissau?
No meu mandato esperamos um reforço de cooperação no domínio da educação, telecomunicações, a nível da economia do país e ao nível técnico-militar com Portugal. Em suma, espero que durante o meu mandato as relações com Portugal conheçam momentos altos.

DN.pt-Por ANTÓNIO NHAGA

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