LISBOA-Com base em indícios considerados suficientemente fortes para o tornar suspeito de ilegalidades em dois negócios do grupo da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) e do Banco Português de Negócios (BPN), o ex-conselheiro de Estado e ex-ministro de Cavaco Silva Manuel Dias Loureiro foi constituído arguido e ouvido nessa qualidade, ontem, pelos investigadores no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP).O interrogatório foi dirigido por Rosário Teixeira, o procurador que lidera a Operação Furacão. Dias Loureiro foi confrontado com documentos que disse nunca ter visto e saiu sujeito a termo de identidade e residência, a medida de coacção que se aplica automaticamente a todos os arguidos. A notificação para comparecer no DCIAP na qualidade de arguido chegou às mãos de Dias Loureiro na semana passada, cerca de um mês e meio depois de ter tomado a iniciativa de pedir ao procurador-geral da República para ser ouvido, de forma a defender-se das acusações relativas à sua conduta que surgiram após declarações prestadas por Oliveira Costa no Parlamento no âmbito do processo do BPN. O PÚBLICO sabe, no entanto, que, com os elementos de que o DCIAP dispõe, o ex-conselheiro de Estado seria chamado na mesma, ainda que não tivesse a iniciativa de ser ouvido.À saída das instalações do DCIAP em Lisboa, foi Dias Loureiro que confirmou ter sido ouvido como arguido. "Pude esclarecer aquilo que pude esclarecer", disse aos jornalistas, adiantando que "só hoje [ontem] percebi alguns contornos do negócio da Biometrics que me passaram completamente ao lado" e que foi "confrontado com documentos que nunca tinha visto". Dias Loureiro, em declarações citadas pela Lusa, disse ainda que "aceita as coisas como elas são" e reiterou a posição de que não cometeu "nenhuma irregularidade".A notícia da condição de arguido de Dias Loureiro foi avançada ontem a meio da tarde pelo semanário Sol, que adiantava que em causa estaria, para além da participação no negócio da Biometrics, em Porto Rico, também a participação de Dias Loureiro no negócio da Redal, em Marrocos.De Porto Rico a MarrocosEm Porto Rico, o negócio em causa refere-se à compra da Biometrics em 2001. A aquisição desta empresa tecnológica, que gerou prejuízos de 40 milhões de euros que nunca foram reportados nas contas da SLN, tem sido descrita como um dos "casos" principais em todo o processo BPN. Oliveira Costa acusou mesmo Dias Loureiro de ter empurrado o grupo para o negócio que tinha como vendedor o libanês El-Assir, amigo pessoal do ex-ministro, descrito na imprensa internacional como traficante de armas.Nas duas audições na comissão de inquérito, Dias Loureiro apresentou versões distintas sobre a compra da Biometrics. Em Janeiro, garantiu ter sido apenas intermediário. Em Maio, já depois de terem vindo a público documentos assinados por si e que comprovam o seu papel na operação (na compra, assim como na anulação do negócio, em 2002), justificou as contradições como lapsos de memória.Na génese deste negócio, considerado de "alto risco" por peritos da própria SLN, terá estado uma outra operação: a venda da empresa de águas e saneamento Redal, em Marrocos.Foi, aliás, neste negócio que El-Assir entrou em cena, como intermediário da venda aos franceses da Vivendi. Segundo Dias Loureiro, foi depois de ter conhecido El-Assir em Marrocos, que veio a sugerir a Oliveira Costa a possibilidade do negócio de Porto Rico (o libanês tinha 25 por cento da empresa).
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