domingo, 13 de setembro de 2009

BRASIL:O que parece nem sempre é

FORTALEZA-Dia 1 deste mês, barraca Crocobeach, na Praia do Futuro, em Fortaleza, Nor- deste brasileiro, uma das mais famosas estâncias turísticas da região. Um empresário italiano de 48 anos, Giuliano Tuzi, está de férias com a família, leva a filha de oito para a piscina, brinca com ela e dá-lhe um beijo na boca. Um casal de brasileiros que assistia à cena ficou "incomodado". Denunciam o caso à polícia alegando que, "além dos beijos", teria havido abuso sexual da menor. No mesmo dia, o italiano foi preso, acusado de "prática de estupro [violação] ou de actos libidinosos com menores de 14 anos". A mãe da menor, de nacionalidade brasileira e casada com o italiano, disse que estavam a cometer um "erro". Para o sociólogo brasileiro Francisco Ribeiro o "episódio é um absurdo".
"As autoridades deveriam ter agido com maior cautela, no sentido de verificar se realmente houve crime", disse o sociólogo em declarações ao Diário do Nordeste. O "excesso de zelo", assegura, seria, na realidade, uma consequência "impulsiva" da recente lei sobre Crimes Contra a Dignidade Sexual, que entrou em vigor no dia 7 de Agosto, no Brasil, "ampliando o conceito jurídico do crime" de violação. Para Ribeiro, o que aconteceu com o turista italiano, foi um "equívoco cultural", já que a cultura italiana "aceita este tipo de afecto, menos comum no Brasil" entre pai e filha. Depois, "esta é uma nova lei e o estrangeiro não tem obrigação de saber dela", afirma. Esta semana, as autoridades brasileiras concederam liberdade provisória, "sob algumas condições", ao empresário, já que não ficou "cabalmente demonstrada a existência do crime". Ele pode aguardar as alegações finais na Itália. Mas a opinião pública brasileira está "constrangida" com o episódio. Até porque, "há várias testemunhas" que dão conta da versão oposta à do casal brasileiro. O advogado do turista italiano, Flávio Jacinto, arrisca falar em "erro grosseiro" da Justiça.
Para o antropólogo Ismael Pordeus, o caso não passa de um "enorme alarido para, na verdade, não tratar dos verdadeiros e graves problemas dessa cidade, que são a prostituição infantil e o consumo de drogas entre crianças e adolescentes nas ruas". Pordeus toca na ferida das principais cidades turísticas do Brasil, como Fortaleza, que segundo relatórios das Nações Unidas e de associações de defesa da criança locais, tem altos índices de abuso e exploração sexual de menores. Além disso, a cidade é, ainda, "roteiro turístico sexual": no sítio da prefeitura local [o equivalente a câmara municipal] está o apelo para denunciar esse tipo de crimes.
O secretário de Justiça, Marco Cals, assume que a região está "conotada com o problema", e que "todo o cuidado é pouco", assegurando que, nos últimos anos, o Ceará tem reforçado as campanhas para "o combate à exploração sexual de menores e prostituição infantil". O "reforço" deu-se, sobretudo, no ano passado, depois de a cadeia de televisão Globo mostrou uma reportagem de investigação sobre prostituição infantil e abuso de menores em Fortaleza. Na reportagem, um taxista dá dicas ao produtor de como ir a um motel onde ele teria "à disposição várias menores".
O produtor foi ao local e encontrou uma miúda de 13 anos que lhe disse receber comissão dos motéis.
Segundo Olenka de Queiroz, que mora há 20 anos em Fortaleza, essa é uma "prática comum" na cidade. "Por muito que se denuncie há sempre lugares clandestinos que acolhem a prostituição infantil, com o consentimento das famílias. O Nordeste é uma região muito pobre, o que faz com que muitas meninas convivam com esse ambiente, como se fosse normal."
DN.PT

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