sexta-feira, 4 de setembro de 2009

PORTUGAL: O EFEITO "YES, WE CAN":"OBAMAS" DA EUROPA

O efeito “Yes, we can”:Novos "Obamas" da Europa

LISBOA-Se Joaquim Crima e Francisco Pereira tinham muita coisa em comum - ambos jovens africanos a viver em solo europeu, licenciados por uma universidade europeia, oriundos de dois países africanos lusófonos -, a partir de agora estão unidos por uma outra particularidade: ambos são os primeiros candidatos negros às eleições locais nas suas regiões de residência.
Joaquim Crima, natural da Guiné-Bissau, 37 anos, e a residir há 20 anos na Rússia, e já conhecido pelo “Obama da Rússia”, concorre, dia 11 de Outubro, como independente à Câmara de Srednyaya Akhtuba, uma pequena cidade província de Volgograd, situada na margem direita do rio Volga.
Francisco Pereira, 28 anos, natural de Cabo Verde e residente em Portugal desde 1998, é investigador no Centro de Estudos de Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta , encabeça o movimento MICA (Movimento de Intervenção e Cidadania pela Amadora), lançando-se na corrida às próximas eleições autárquicas, neste município, este mês de Setembro.
O inconformismo dos jovens e a difíicil situação social que se vive na Amadora são apontados como algumas das causas da criação do MICA. Em carta aberta aos eleitores, publicada no site oficial do Movimento, o candidato Francisco Pereira define os seus objectivos: “Esta candidatura é naturalmente consequência do sentir dos amadorenses, o desafio de um projecto colectivo para cumprirmos os anseios da população, difundido inclusivé e nomeadamente as virtualidades de quem na Amadora trabalha, ou habita com a esperança num futuro melhor, no tal sonho possível de concretizar, uma aposta forte, apesar dos custos familiares, pessoais e profissionais que uma candidatura independente acarreta.”
Se no caso de Francisco Pereira a favorável condição luso-cabo-verdiana resulta dos laços historico-culturais entre Portugal e Cabo Verde, para não referir os milhares de cidadãos de origem cabo-verdiana instalados neste concelho, já Joaquim Crima enfrenta o desafio de ser o primeiro candidato negro as umas eleições na Federação Russa, país conhecido por ser dos mais racistas e mais xenófobos de todo o continente, onde a simples presença de negros nas ruas é motivo para actos de violência.
Para alguma imprensa, estes dois fenómenos são vistos como ondas do chamado “efeito Obama” – de uma nova coragem e tenacidade - , que vão surgindo um pouco por todo o mundo, na voz de jovens candidatos dispostos a trazer mudanças socias e económicas, nas suas comunidades de residência, e, claro, com vontade de fazer história.
Joaquim Crima vive há mais de dez anos em Srednyaya Akhtuba, é casado com uma arménia, Anait, e é pai de um menino de nove anos. Deixou a sua Bolama natal para prosseguir os estudos superiores na cidade de Voivograd e por aqui ficou, passando a trabalhar com o sogro, um agricultor especializado em melancias.
Ao telefone, o português de Joaquim acusa a ausência de prática, mas é o suficiente para, em entrevista ao portal SAPO, recordar que a ideia de “entrar para a política já estava na cabeça há muitos anos, desde o tempo do liceu e depois na universidade”. E porquê agora? “É preciso mudar a situação actual das pessoas”, diz.
E o facto de ser um candidato negro na Rússia? “A população local, de início, ficou muito acanhada, mas agora está quase toda do meu lado”. Crima confirma o resultado das últimas sondagens: “Entre nove candidatos, já estou em terceiro lugar”. E por entre várias quebras na ligação, Joaquim Crima não nega os perigos que corre pela ousadia, “principalmente se continuar a subir nas sondagens”. Por isso, conclui, confiante: “Por causa dos bons resultados já tive de arranjar um guarda-costas”.
E o exemplo de Barack Obama, é inspirador?”Claro que sim. Obama deu-me as bases para realizar o meu sonho, por isso acredito num bom resultado”.
O chamado “Obama da Rússia” refere com uma ponta de orgulho a atenção que vem tendo dos media internacionais: "Já falei com vários jornalistas da Federação Russa, com a BBC, o Canal Arte, uma televisão americana e mesmo a Aljezira...”
Sapo-Por Joaquim Arena

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