terça-feira, 22 de setembro de 2009

TV:Dez anos de Big Brother


Raramente alguém ganha tanto dinheiro com uma ideia para um programa de televisão. E raramente tantos ex-participantes de um programa desenvolvem problemas psicológicos. Esta semana faz exatamente dez anos que os primeiros moradores entraram na casa do Big Brother. De lá pra cá, o reality-show holandês já pôde ser visto em todo o mundo.
Suas vidas mudaram radicalmente na noite de 16 de setembro de 1999. Oito holandeses comuns entravam na casa onde, 24 horas por dia, durante 106 dias, seriam seguidos por câmeras. Eles não faziam ideia do que os aguardava. O Big Brother causaria uma revolução mundial na televisão.
O jovem Bart (foto), os atenciosos ‘pai e mãe’ Karin e Willem, o ‘maluco’ Ruud. A Holanda se apaixonou coletivamente por eles. A avalanche de críticas surgidas antes do programa ir ao ar diminuiu. Não, os participantes não tentavam colocar uns aos outros para fora da casa, como se temia. Na fraterna comunidade, não se viu nada disso. Tocava-se violão, assava-se pães e, incidentalmente, participava-se de uma tarefa competitiva. Mesmo assim, durante o programa, as ruas ficavam vazias...
Prédio invadido
Dez anos após sua vitória, Bart, hoje com 32 anos, não consegue esconder sua irritação. Ele gastou todo o dinheiro que ganhou. Hoje vive em um prédio invadido e faz palestras em escolas sobre segurança no trânsito. Ele acha chocante que seus compatriotas demonstrem tão pouco conteúdo.
“Você pode imaginar que isso me parece muito infantil? Sim, você podia se identificar com as pessoas na televisão. Uma ova. Entre em um supermercado, lá também tem gente com quem você pode se identificar. Também pode ir lá todo dia pra olhar. Quantas coisas você não deixa de fazer na sua vida pra ficar assistindo Big Brother? Mas são todos holandeses, têm todos direito a voto. Pode uma coisa destas? Sabe o quê? Vamos transformar o criador, John de Mol, em ‘chefão’ da Holanda e colocar o maluco do Ruud como ministro da Festa, assim todos vão gostar.”
Declarações de amor
Demorou para que os moradores percebessem que o país inteiro estava acompanhando tudo o que eles faziam. Um jornal especial para o Big Brother, com milhares de mensagens de apoio e declarações de amor fez com que eles abrissem os olhos. O choque foi grande, mas naquele momento eles ainda estavam protegidos, dentro da casa.
De acordo com o pesquisador de televisão, Maarten Reesink, o Big Brother e a rede de televisão CNN são as mais brilhantes ideias já executadas na televisão. Pode-se variar infinitamente: deixar as pessoas cantar, dançar, construir uma casa. É mais barato que produzir uma novela e combina com a rotina dos dias de hoje, onde usuários da internet desnudam suas vidas diariamente em sites como o Twitter.
Fama inesperada
Mas principalmente a primeira edição do programa teve um enorme efeito colateral. A fama inesperada. Reesink pesquisou todos os participantes.
”Todos eles acabaram tendo, no primeiro ano, um breakdown mental. Todos tiveram um período de pelo menos uma semana, e outros talvez até agora, dez anos depois, durante o qual tiveram agorafobia ou ficaram totalmente perdidos, começaram a beber. Resumindo, todos tiveram problemas psicológicos. O principal motivo é que eles acreditavam que seriam reconhecidos na rua por alguns meses e depois não mais, mas eles estão até hoje em nossa memória coletiva.”
O vencedor, Bart, e o ‘maluco’ e engraçado Ruud foram os que mais sofreram com isso. O primeiro não se atrevia a sair na rua durante muito tempo. Ele ainda é abordado quase diariamente quando sai em público.
“Veja Michael Jackson, por exemplo. Imagine o que acontecia quando ele ficava na rua por meia hora. Isso me aconteceu”, conta Bart. “E pior ainda. ‘Ei, Bartje’, eles me chamavam. ‘Você é tão burro quanto o Ruud?’ Eu me irrito com o fato da edição do programa ter deixado todas as boas conversas de fora. Só mostravam bobagens e brigas. Eu não me reconheço naqueles programas. Mas é impossível lutar contra aquela imagem. Eu deveria ter pego aquele dinheiro e emigrado. Gastei tudo em viagens, mas teria sido melhor não ter voltado.
Reality TV
O criador, John de Mol, deve ter ótimas lembranças daquele primeiro dia de Big Brother.
Hoje o programa pode ser visto em 72 países e acaba de estrear em Israel. Isso confirma o que o magnata da mídia John de Mol e o pesquisador Reesink pensam: a realidade está mais viva que nunca na TV. Quase todos os programas com altos índices de audiência são baseados na realidade, na vida de pessoas comuns - que hoje sabem muito melhor o que as espera do que os primeiros participantes do Big Brother. E quer você goste disto ou não: não há sinal de saturação do espectador.
Entretanto, o canal britânico Channel 4 decidiu recentemente parar com as edições do Big Brother no verão de 2010. Ao que parece, os índices de audiência começaram a cair.
BBB 10No Brasil, o programa ainda tem enorme sucesso de audiência e a Rede Globo já prepara a próxima edição, o BBB 10, que está com inscrições abertas até 31 de outubro para quem quiser participar.
RNW-Por Maurice Laparlière

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