
No dia em que faliu o banco de investimento Lehman Brothers, há precisamente um ano, as notícias centravam-se no facto de ser a maior insolvência de sempre nos EUA, de estarem em risco mais de 25 mil postos de trabalho e de terem desaparecido cerca de 30 mil milhões de euros de capitalização bolsista. No entanto, apesar de todos estes números serem impressionantes, não é exactamente por isso que o dia 15 de Setembro de 2008 vai ficar na história económica mundial.O que realmente aconteceu, como se começou rapidamente a perceber nos dias seguintes, é que, com o colapso do Lehman, todo o sistema financeiro do mundo ocidental ficou, após décadas de crescimento acelerado, em risco iminente de se desmoronar. Em poucas semanas, mais bancos e seguradoras – nos EUA e na Europa – entraram em risco de insolvência, o mercado de crédito congelou, as bolsas caíram a pique e a economia entrou decididamente em recessão. Perante este cenário, numa tentativa de justificar porque é que de repente o Estado estava a gastar tanto dinheiro para ajudar o sistema financeiro a sobreviver, os políticos prometeram que nada poderia ficar como dantes.Agora, passado um ano, e com a economia mundial muito mais estabilizada, já não existem tantas certezas de que uma falência como a do Lehman Brothers não venha a repetir-se. Os avisos, já realizados por vários economistas, vieram ontem da boca de alguns dos mais importantes líderes mundiais. Barack Obama, num discurso realizado em Nova Iorque, criticou o regresso a comportamentos imprudentes por parte dos banqueiros. “Há alguns no sector financeiro que estão a interpretar mal o actual momento. Em vez de aprenderem as lições trazidas pelo Lehman e pela crise – de que ainda estamos a recuperar –, eles estão a escolher ignorá-las”, afirmou, avisando que “não vamos voltar aos dias dos comportamentos imprudentes e dos excessos não regulados que estão no coração da actual crise”.
O Presidente dos EUA disse ainda a uma plateia repleta de banqueiros, que precisava do apoio de Wall Street para levar a cabo “a mais ambiciosa reforma do sistema financeiro desde a Grande Depressão”.
Poucas horas antes, Gordon Brown, o primeiro-ministro britânico, já tinha acusado os bancos de estarem a repetir os mesmos erros do passado, em particular no que diz respeito à política de prémios para a administração. Este tema promete estar no centro das discussões da próxima cimeira do G20 no final deste mês.
Ainda mais pessimista está o Prémio Nobel Joseph Stiglitz. Em entrevista publicada ontem, mostrou a sua preocupação por não se ter ainda feito nada para evitar a existência de bancos com dimensão suficiente para, como aconteceu com o Lehman Brothers, poderem colocar em causa todo o sistema financeiro. “Nos EUA e em muitos outros países, os bancos 'demasiado grandes para falirem’ tornaram-se ainda maiores”, avisa o economista.
PÚBLICO.PT-Por Sérgio Aníbal
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