Ministro da Cultura de Cabo Verde-Manuel Veiga(Foto)
PRAIA-O ministro da Cultura de Cabo Verde afirma que não pedirá a demissão por causa de o projecto de oficialização da língua cabo-verdiana ter sido excluído da revisão constitucional.
Manuel Veiga sublinha, em declarações à agência de notícias cabo-verdiana Inforpress que, apesar de se considerar "insatisfeito", não vê razões para pedir a demissão, uma vez que não concorda que tenha sido politicamente derrotado.
"Representa uma derrota política para aqueles que não a aprovaram, porque aquilo é uma causa justa que todos reconhecem", diz Manuel Veiga, recordando que a oficialização da língua cabo-verdiana (crioulo) já foi conquistada com a independência de Cabo Verde, em 1975, e está reconhecida na própria Constituição da República, de 1999.
Manuel Veiga assinala ainda que, como ministro da Cultura, sempre defendeu a valorização e o reconhecimento da oficialização da língua cabo-verdiana, tendo feito tudo o que lhe era possível nesse âmbito. Por isso diz-se "insatisfeito" com a rejeição da proposta por parte do Movimento para a Democracia (MpD, oposição), sublinhando, porém, não encontrar razões para estar frustrado e tão pouco para se demitir do cargo. "Não aconteceu (a oficialização do crioulo) e pode não acontecer mesmo na vigência de Manuel Veiga enquanto ministro da Cultura. Ficaria muito mais satisfeito se isso acontecesse; mas por uma coisa que não tenho responsabilidade não posso sentir-me frustrado".
Manuel Veiga adianta, por outro lado, que, estando ou não no Executivo, vai continuar a batalhar em prol da afirmação do crioulo e da cultura cabo-verdianas.
No seu entender os defensores do crioulo "ganharam força" para continuarem a defender a sua legitimação, e a recusa da proposta de oficialização por parte do MpD "não será um retrocesso", nem vai pôr em causa a institucionalização do crioulo. O que ficou impedido, segundo o governante, foi a concretização do propósito do Governo, que era o de legitimar o dever e direito de se aprender e usar a língua, já garantidos na actual Constituição, lembrando que já existem gramáticas, dicionários, livros, romances e outros instrumentos escritos na língua cabo-verdiana.
Manuel Veiga admite porém que o número de professores formados para ensinar a língua cabo-verdiana nas escolas do país ainda é "insuficiente", pelo que o Governo está a apostar na formação de professores no ensino superior.
Em relação ao problema da escolha da variante linguística a ser oficializada, apontado como um dos principais obstáculos à institucionalização do crioulo, o ministro, que é linguista de formação, explica que a ideia era oficializar todas as variantes existentes no país para permitir não só a compreensão entre os falantes como também a transição para uma fase de unificação linguística no futuro.
Na escrita e na administração pública os serviços poderiam não estar 100% preparados para emitir documentos oficiais em qualquer das variantes, mas Manuel Veiga desvalorizou a questão, afirmando que o uso de qualquer variante seria admitido, além de que a outra opção seria o recurso ao Português.
O acordo para a revisão constitucional foi assinado terça-feira pelos líderes do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), José Maria Neves (igualmente primeiro-ministro) e do MpD, Carlos Veiga, em que ficou excluída a inclusão da oficialização do crioulo.
OJE/LUSA/INFORPRESS
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