PRAIA-Arnaldo Rocha dirige duas empresas que se dedicam à produção de cervejas e refrigerantes em Cabo Verde. O grupo já investiu 30 milhões de euros, lidera nos refrigerantes e quer liderar nas cervejas.
A cerveja Strela, produzida pela Ceris, tem vindo a ganhar terreno em relação às tradicionais Sagres e Superbock. À frente da empresa de produção de cervejas e refrigerantes e da distribuidora Cavibel está o engenheiro químico Arnaldo Rocha, 55 anos, natural do Porto. O desafio foi lançado em 2006 e o céu parece ser o limite. Quer a liderança do mercado cervejeiro já em 2010 e detêm, neste momento, 75% dos refrigerantes. O administrador e director-executivo da Cavibel e da Ceris acredita que a legislação comercial vai melhorar e nem se preocupa com a concorrência da Central de Cervejas, que, curiosamente, também é accionista, "mas simbólico e sem representatividade".
O que são a Cavibel e a Ceris?
São, antes de mais, duas empresas industriais que pertencem ao tecido industrial de Cabo Verde. A Ceris dedica-se à produção de cerveja e de refrigerantes e a Cavibel à produção de refrigerantes. Os produtos são exclusivamente comercializados pela Cavibel, que distribui directamente nas principais ilhas do arquipélago e através de distribuidores nas restantes.
Quem integra a estrutura accionista?
O grupo de empresas tem a casa-mãe em Barcelona. Os accionistas são espanhóis, são capitais que pertencem à Equatorial Coca-Cola Botlling Company, que é uma holding formada em 25,87% pela Coca-Cola Export e os restantes divididos pelas empresas, também espanholas, Cobega (60,37%), Norbega (11,76%) e Casbega (2%), que são as empresas distribuidoras, os franchisados da Coca-Cola em Espanha.
Como está a produção a distribuição em Cabo Verde? Que investimentos foram feitos?
A produção corresponde perfeitamente e foram feitos os investimentos necessários na modernização da cervejeira, sobretudo na unidade industrial, que foi completamente modernizada para corresponder às exigências de qualidade a que este grupo se obriga.
Mas qual foi esse investimento?
Na Ceris, o investimento na modernização das instalações ascendeu a 10 milhões de euros. O objectivo era atingir os parâmetros de qualidade a que nos propusemos, o que faz com que a cerveja Strela seja de altíssima qualidade e já galardoada com dois prémios internacionais em Bruxelas. No que respeita à Cavibel, a unidade industrial no Mindelo que tem sofrido os investimentos normais de modernização constante.
E quais são os montantes?
Posso dizer que o montante total investido pelo grupo em Cabo Verde ronda os 30 milhões de euros. Os investimentos são contínuos de ano para ano, não só na unidade industrial, mas também em todos os materiais de ordem logística ligados à distribuição, como carros, camiões, frigoríficos, etc.
Quais são as marcas que distribuem?
Em termos de refrigerantes, são principalmente as marcas da Coca-Cola. A Cavibel é um franchisado da Coca-Cola, responsável pela produção e distribuição em Cabo Verde de marcas como a Coca-Cola, Coca-Cola Light, Sprite, Fanta e Água Tónica.
E como surgiu a cerveja Strela?
A Strela é um projecto novo, muito interessante. Surgiu da compra da antiga unidade industrial da Ceris em Cabo Verde, à Empresa de Cervejas das Madeira. Esta vendeu-a ao Grupo Cobega. Agora temos a unidade industrial e temos de a manter actualizada com os investimentos que estamos a fazer, num mercado que é muito competitivo, pois tudo é importado. Mas sobretudo porque há aqui duas marcas importantes: a Sagres e a Superbock.
Qual a quota de mercado da Strela?
A Strela vai fechar o ano com 35% da quota de mercado. O que quer dizer que, este ano, nesta altura, andará a rondar os 40%.
Já são líderes de mercado?
Não, ainda não. Ainda é a Superbock. Em 2010 queremos chegar à liderança.
Qual é a vossa produção para se obter esses 40%?
Os 40% correspondem sensivelmente a quatro milhões de litros produzidos.
E qual é a vossa capacidade?
Numa fábrica de cerveja é sempre relativo porque tem diferentes blocos. O bottle-nec, que é a área da fermentação, tem como capacidade limite os seis milhões de litros. Mas, em 2010, vamos investir no aumento da capacidade para oito milhões de litros.
É aí que esperam ultrapassar os 50% de quota de mercado ou chegar à liderança?
O mercado de cervejas em Cabo Verde situa-se nos 11 milhões de litros. No próximo ano, esperamos a liderança e atingir os 45 a 48%.
Qual a quota da Superbock e da Sagres?
A Superbock anda à volta dos 52%, a Sagres mais ou menos 10%, a Strela 35% e as restantes, importadas, constituem 3%.
Não é uma contradição haver concorrência com a Superbock e a Sagres quando um dos vossos accionistas é, precisamente, a Central de Cervejas, fabricante da Sagres?
A Central de Cervejas está presente há muitos anos na estrutura accionista, e tem 3%. No entanto, recentemente houve uma Assembleia-Geral para aumentar o capital social e a Central de Cervejas não acompanhou. Essa percentagem tem-se diluido sendo agora uma participação simbólica.
E nos refrigerantes? São líderes?
Somos líderes, obviamente. Assim como somos líderes nos outros produtos da própria companhia. Este ano estamos com 56% de quota de mercado. Mas também produzimos outras marcas de refrigerantes da Ceris que, juntando à Coca-Cola, permitem-nos chegar aos 75%.
Isso é quase o monopólio...
Não é monopólio. Felizmente temos um grande concorrente, que é a Trindade (empresa cabo-verdiana), e as marcas importadas. O importante é que, a produção nacional - nós, em conjunto com a Trindade - tem conseguido diminuir as importações e a saída de divisas, bem como melhorar a balança comercial de Cabo Verde.
Qual a razão do investimento da Coca-Cola em Cabo Verde?
Este grupo tem uma paixão por África. Nota-se porque o grupo está também no norte de África e em quase toda a África Ocidental. A maior parte dos países são franchisados da Equatorial Coca-Cola Botlling Company. Cabo Verde não foge à regra. Este grupo viu há muitos anos que Cabo Verde é um mercado que vai evoluir no bom sentido, pois tem um potencial turístico muito elevado. Por outro lado, Cabo Verde é um país que tem estabilidade política, monetária e cambial, o que ajuda qualquer empresário quando vem investir.
Como vê a actual legislação comercial cabo-verdiana?
A legislação comercial tem agora tendência para evoluir, para melhorar, devido às novas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), a que o país aderiu em 2008.
Vai trazer benefícios?
Tem os dois lados. Mas penso que os benefícios serão maiores. Primeiro, porque haverá um melhor nivelamento das taxas aduaneiras que permitirá, por seu lado, mais importações. Mas há outros mecanismos que os governos têm para controlar essas importações, como as taxas sobre o álcool, que permitem regular e privilegiar é a produção nacional. Temos tido um bom diálogo com o governo e há boas propostas para que possamos defender a indústria nacional.
Acha que essas regras da OMC vão obrigar o governo a melhorar as condições para atrair o investimento?
Acho que sim. Penso que o caminho vai ter de ir forçosamente por aí. Num país em que os recursos naturais são parcos, temos de nos dedicar à transformação, ou seja, por exemplo, importar matérias-primas e acrescentar-lhe valor para se poder criar riqueza dentro do país. Isso é fundamental e penso que a legislação irá por aí.
Quais foram os resultados líquidos das duas empresas?
Estão a melhorar. Não têm sido positivos, porque a Ceris vinha de uma situação muito negra e esteve à beira de fechar antes de ser comprada. Com esta modernização e transformação que fizemos, quer a Cavibel quer a Ceris, estão no bom caminho e irão passar do vermelho a azul em 2010 ou 2011. Aliás, estamos a tentar que o break-even aconteça já em 2010, para passarmos a azul em 2011.
Houve um esforço grande?
Sim. Houve um esforço também grande dos accionistas, que tem suportado estóica e heroicamente os resultados destas empresas, e mesmo o cash-flow negativo. Neste momento, as coisas estão mais equilibradas a nível de cash-flow. Mas, o certo é que apresentaram um plano que as transforma em empresas rentáveis.
Não há então aquela visão típica de investimento a curto prazo?
Sem dúvida. Se fosse uma aposta no curto prazo, estas duas empresas já não existiam. Este grupo é um corredor de fundo, não aposta no curto prazo. Estes investidores estão em Cabo Verde porque acreditam no país. E com as necessárias ajudas que o governo tem de dar à indústria nacional vamos todos chegar a bom porto. Já houve conversas suficientes com o governo e vamos chegar lá.
LUSA-Por José Sousa Dias
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