segunda-feira, 23 de novembro de 2009

HOLANDA:QUAL O PAPEL DA HOLANDA NO DRAMA DOS REFUGIADOS AFRICANOS?


Qual o papel da Holanda no drama dos refugiados africanos?

Dezenas de corpos de africanos exaustos ou afogados aparecem em uma praia holandesa. Eles são abrigados em barracas em um campo de refugiados entre as dunas. Uma cena irreal, é claro. Os barcos de refugiados não chegam tão longe.
Mas será que a Holanda não é um pouco cúmplice nas muitas mortes ocorridas na costa sul da Europa?
Na verdade, a fronteira holandesa chega até o Mar Mediterrâneo, já que, uma vez em território da União Europeia, muitos refugiados sabem como chegar até a Holanda, diz a vice-ministra da Justiça, Nebahat Albayrak. E por isso, de acordo com ela, é preciso fechar as fronteiras. Mas controles intensivos de fronteiras causam mais mortes de refugiados, dizem os críticos.
Como as rotas de avião são fortemente controladas, todos os anos mais de 100 mil imigrantes se dirigem à Europa em barcos clandestinos vindos da África. Um número cada vez maior não sobrevive à travessia. De acordo com o professor de direitos migratórios Thomas Spijkerboer, o governo holandês tem que assumir sua porção de responsabilidade por isso: ”Desde o início dos anos 90 o número de mortes entre refugiados que vêm de barco da África cresceu oito vezes. Isso, entre outras coisas, por causa do patrulhamento de fronteiras. A questão é como o aumento do número de mortes está relacionado à política adotada pela Europa”, diz Spijkerboer.
’Aventureiros'
A intensificação do patrulhamento das fronteiras europeias está se pagando. Aportar ilegalmente na costa espanhola tornou-se praticamente impossível graças a um caro mecanismo de detecção implantado pela UE. Barcos de patrulha europeus monitoram todo o Mar Mediterrâneo em busca de ‘aventureiros’.

A Itália fez um acordo com a Líbia para que a passagem entre os dois países seja bloqueada. Agora, os imigrantes procuram novas rotas com seus barcos, via Turquia ou pelas ilhas gregas - trajetos menos conhecidos e portanto mais perigosos. Muitas pessoas não sobrevivem à travessia. Quantas exatamente, não se sabe, pois a Europa não registra estas mortes.
A Holanda apoia os rígidos controles de fronteira nas águas do sul da Europa. Será que a vice-ministra Albayrak se sente responsável pelo aumento no número de mortes?
”Não. A política não é responsável pelo drama humanitário, mas justamente a falta de uma política única da União Europeia. Imigrantes vão continuar vindo para a Europa e a questão é cuidar para que as pessoas certas sejam ajudadas a vir e as outras desencorajadas. Por isso é preciso intensificar o controle de fronteiras.”
Mas enquanto houver oportunidades na Holanda para os chamados ‘imigrantes econômicos’, o governo holandês é, sim, cúmplice pelos refugiados que morrem no trajeto, acredita o pesquisador do tema, Jeroen Doomernik: ”Você pode dizer: eles vêm por sua conta e risco. Mas enquanto a Holanda não for capaz de impedir o trabalho informal de forma que não haja mais demanda ou lugar para estas pessoas, elas continuarão tentando imigrar de maneiras perigosas."
Nenhum barco de refugiados chega à Holanda, mas o país pode por isso desviar o olhar e deixar o problema por conta dos vizinhos do sul?
”Esta é uma grande contradição. O refugiado que chega hoje de barco à Grécia estará pedindo asilo amanhã na Holanda. Há muita concorrência entre países europeus e são justamente estes países que fecham os olhos para os refugiados e os canalizam para a Holanda”, comenta Albayrak.
Assim como a Europa se une para o patrulhamento de fronteiras, os países membros se dividem internamente. E isso é combustível suficiente para que refugiados tenham esperança e continuem a todo custo tentando fazer a travessia.
RNW- Por Martijn van Tol

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