quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CV(LUSA):Médicos exaustos devido ao dengue em Cabo Verde, mas o pânico já passou


PRAIA-Cidade arejada, a capital de Cabo Verde acaba por concentrar quase 90% dos casos de dengue no país. Razões para tal passam pelo desleixo, pelo lixo, pelas poças de água e ainda pela falta de hábito de epidemias.

Seis mortos e mais de 17.000 casos, 157 deles evoluídos para febre hemorrágica, é, para já, o balanço de uma epidemia que tardou em ser reconhecida pelo governo, que só o fez praticamente um mês depois.
As poças de água são agora poucas, mas há ainda muita água estagnada pela cidade, constituindo um potencial foco de propagação do mosquito. O total de novos casos diários tem vindo a abrandar, mas ainda são registados entre 300 a 400.
O Hospital Agostinho Neto (HAN), na Cidade da Praia, respira agora um pouco. A afluência é menor e o cansaço e exaustão começam a aparecer nas caras de todo o pessoal, entre médicos, enfermeiros, voluntários e administrativos.
"Há um natural desgaste e algum, cansaço, mas ninguém se queixou. Isso posso garantir", disse à Agência Lusa Mecilde Costa, directora clínica do HAN, lembrando que nada mais se fez do que desempenhar a profissão.
Maria José Almada, enfermeira, também reconheceu o esforço despendido ao longo dos quase dois meses.
"Sinto-me um pouco cansada, mas fiz sempre tudo com muito amor e carinho. Alguém tem de fazer este trabalho para bem da população", disse à Lusa enquanto atendia mais um paciente.
Face ao número de casos, mais de 17.000, o total de mortos, estabilizado em seis desde dia 5 deste mês, tem sido a boa notícia. Mas alturas houve em que as pessoas entraram em pânico e esgotaram, em poucos dias, repelentes, antipiréticos e vitamina C, obrigando a recursos já antigos.
Álcool de cânfora, cravinho e até a Tendente, árvore farta na capital e que aparentemente afasta os mosquitos, devido ao seu odor, foram usados por todos os que não conseguiram obter repelentes nas farmácias.
"As pessoas estavam assustadas e creio que foi devido ao pânico que se esgotou tudo. Nessa altura até o álcool (etílico) e o óleo para bebé se esgotou", disse Elsa Lima, proprietária de uma farmácia no Palmarejo Norte, na Cidade da Praia.
"Todos se assustaram, mas o receio é agora menor, pois provou-se que os profissionais de saúde souberam e sabem dar resposta.
A mudança de hábitos de higiene é longa e vai demorar gerações, disse já Janira Hopffer de Almada, mas a aposta no saneamento básico em todas as ilhas é agora "uma das prioridades do executivo de José Maria Neves.
A lixeira municipal é a céu aberto e a incineração também. A sorte é que já não chove há mais de três semanas e o calor já não é tão intenso, deixando Cabo Verde refém do clima, da chuva e do calor. Um paradoxo. Já ninguém quer que chova, pelo menos por enquanto.
LUSA-Por JOSÉ SOUSA DIAS

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