sábado, 26 de dezembro de 2009

CPLP:Acordo Ortográfico - O hífen, os acentos, as duplas grafias


LISBOA-Das muitas alterações constantes do Novo Acordo Ortográfico, as que respeitam ao hífen figuram entre as mais vezes citadas, com destaque para o «desbaste» a que é sujeito nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver.
Hei de, há de, hás de e hão de são as novas grafias daquele que é talvez um dos mais maltratados verbos da língua portuguesa.
Ocorre perguntar porquê o corte do hífen? Ajudará a pôr cobro a atropelos do tipo «hádes» (em vez de hás-de) ou «hádem» (no lugar de hão-de)?
Nada disso. A razão, como se lê na Nota Explicativa do Acordo, é a seguinte: «nestas formas verbais, o uso do hífen não tem justificação, já que a preposição 'de' funciona ali como mero elemento de ligação ao infinitivo com que se forma a perífrase verbal (cf. hei de ler, etc.), na qual 'de' é mais proclítica do que apoclítica».
Não é tudo: o hífen cai mais vezes. Cai, por exemplo, quando o prefixo de uma palavra termine em vogal e o elemento seguinte comece por r ou s - casos em que se dobra a consoante (contrarregra, semirracional, microssistema) - e cai quando o prefixo termina em vogal e o elemento inicial da segunda palavra é uma vogal diferente (antiaéreo, extraescolar).
Mas não cai sempre. Continua, por exemplo, com a abóbora-menina, a erva-doce, o bem-estar, a sem-cerimónia, o pé-de meia...

Também muito citadas, pelo seu «peso» no Acordo, têm sido as consoantes mudas ou não articuladas, c e p, em sequências consonânticas como cc, cç, ct, pc, pç, pt.
Há quem fale de «massacre» para qualificar a razia a que são sujeitas. E há quem a este argumento contraponha o de «limpeza», de «cosmética» pura e simples.
Na verdade, há, no tratamento aplicado, soluções «para todos os gostos e dizeres». Assim:
1 - Conservam-se «nos casos em que são invariavelmente proferidas nas pronúncias cultas da língua» (ex: compacto, friccionar, pacto, adepto).
2 - Saem de circulação «nos casos em que são invariavelmente mudas nas pronúncias cultas da língua» (abstracionismo, otimismo, objeto, ação, coleção, ativo, excecional).
3 - Saem ou não, facultativamente, «quando se proferem numa pronúncia culta» ou «quando oscilam entre a prolação e o emudecimento» (aspecto/aspeto, cacto/cato, recepção/receção).
As duplas grafias - para os opositores, uma das áreas de maior debilidade e perigo do Acordo - acontecem ainda noutros passos. Na acentuação gráfica, por exemplo.
Atentas as variações de pronúncia de um lado e do outro do Atlântico, são aceites duas variantes. Entre muitos exemplos possíveis: em Portugal, «académico», «gémeo», «polémico», no Brasil, «acadêmico», «gêmeo», «polêmico».
Do lado brasileiro, desaparecem o trema, usado em palavras como «aguentar» e «frequente», o acento agudo em palavras com o ditongo «ei» como sílaba tónica («plateia», «assembleia») e o acento circunflexo em palavras como «abençoo» e «voo».
A facultatividade é um dos «cavalos de batalha» dos opositores do Acordo, que preveem e temem uma geral confusão no reino da escrita e lembram, a propósito, que o Acordo de 1945 rejeitava liminarmente as «grafias duplas ou facultativas».
Não deixando de recusar a nova Norma no seu todo, perguntam os opositores se a rejeição expressa no Acordo de há 64 anos não seria a opção mais razoável, a que mais contribuiria para «unidade essencial da língua» que se aponta como objectivo.
Os dados estão lançados. A seu tempo se saberá o que mais vai pesar na balança: os benefícios que os apoiantes dão como certos ou os danos que os opositores temem como prováveis. Até um próximo (des)acordo.
Sapo.cv/Inforpress/Lusa

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.