PRAIA-É sem dúvida uma das figuras mais populares da música tradicional cabo-verdiana, com residência fixa no interior de Santiago. Tarrafalense de gema, este septuagenário afigura-se como um dos grandes mestres e especialistas na arte de confeccionar e tocar “Cimboa”, um instrumento secular, outrora muito utilizado sobretudo pelos camponeses, no acompanhamento do batuco.
Nascido e criado em Chão de Junco, uma localidade do interior da vila do Mangui, responde oficialmente por Tomás Mendes Cabral, mas, popularmente é conhecido simplesmente por Nho Eugénio.
Homem simples e de fácil trato, é considerado um autêntico “museu” e um dos poucos filhos desta terra preocupado com a preservação do “Cimboa”, instrumento que nos dias de hoje corre o risco de entrar no esquecimento.
Surpreendido com a reportagem da Inforpress, após uma viagem dividida por uma estrada empedrada e de terra batida, numa tarde já ao pôr do sol, Nho Eugénio recebeu-nos de braços abertos para dois dedos de conversa.
À moda antiga, aliás, no estilo característico das gentes de outros tempos no interior de Santiago “djentis di fora”, este homem já marcado por rugas na cara, próprias das vicissitudes da vida, mãos calejadas, sinal de quem trabalhou “muitas às as-aguas”, se prontificou em nos cumprimentar dando tradicional bênção, com os habituais dizeres: Deus esteja convosco, à casa é vossa.
Sentado num banco tradicional – conhecido nestas paragens por mocho -, ao lado da sua cama, fez questão de nos receber com uns acordes da Cimboa, uma autêntica obra de arte, para logo de seguida nos explicar o porquê da sua técnica de tocar este instrumento.
Aprendeu a tocar a Cimboa pelas mãos do falecido Toy di Palo no povoado do Mato Brasil (interior de Santiago), segundo disse, numa simples e inevitável “sedução”, já que ambos confeccionavam balaios de tiras de caniço, um utensílio muito utilizado nas ilhas agrícolas para o transporte de hortícolas como milho, feijão, batata, abóbora, de entre outros produtos da terra.
Contava 30 anos de idade quando Nho Eugénio pegou pela primeira vez numa Cimboa, para, a partir daí, ganhar o apetite e nunca mais afastar-se deste instrumento musical.
Pedaços de madeira, bole, fios de rabo-de-cavalo, flor de marmeleiro, pele de cabras, cola, verniz e “berinha” são as matérias primas essenciais para a confecção do Cimboa, pelo que Nho Eugénio se recorre muitas das vezes da boa vontade dos familiares e amigos no estrangeiro, proporcionando-lhe a vinda dos fios de rabo de cabo-de-cavalo, que, curiosamente, já se tornam raros nestas paragens atlânticas.
Conforme nos confessou, há mais de 20 anos que não se depara com rabos-de-cavalos propícios para a confecção das cordas de Cimboa na ilha de Santiago, e afirma que em Cabo Verde só é possível adquirir esta rara preciosidade em alguns cavalos de corrida do tipo daqueles que são usados nas festas de São Filipe na ilha do Fogo.
Durante os 40 anos da sua intimidade com este instrumento, Nho Eugénio já confeccionou perto de 100 unidades. Entretanto, ultimamente a sua procura está a ser bastante solicitada pelos turistas alemães, ingleses e portugueses.
Nho Eugénio conta nos dedos de uma só mão, os artistas que se dedicam a esta arte em Cabo Verde. Além dele, aponta o nome do músico Pascoal de Ano Nobo, tido como seu sucessor, bem como um outro fulano já velhote da localidade de Renque Purga, concelho de Santa Cruz, que supostamente se dedica também ao fabrico de Cimboa.
Conhecido pela sua destreza, dá aulas a quem estiver interessado, mas lamenta que os jovens estão mais preocupados com a modernidade e com a era digital, pois, queixa-se que nenhum dos seus oito filhos e muito menos os tantos netos que possui, se interessam pela arte popular cabo-verdiana.
Todavia, reconhece que se trata de um instrumento de difícil manuseamento, ao mesmo tempo que alerta as autoridades para a necessidade de sua preservação.
Em casa de Nho Eugénio pode-se ver em destaque na parede da sala, um Diploma de Mérito atribuído pelas autoridades municipais. De pé, por entre a soleira da porta, aponta para o extenso manto verde de feijão, e afirma com perseverança que o ano agrícola está garantido neste campo, não obstante a abundância de chuvas que chegara a ameaçar a produção.
Apesar da idade e do desgaste provocado pelas lides do campo, Nho Eugénio assume também o papel de conselheiro da zona de Chão de Junco, pelo que não se cansa de mobilizar os moradores no sentido de evitar a desavença neste povoado.
Trabalha diariamente em parceria com as autoridades judiciais e policiais, mas, prefere aconselhar em primeiro lugar os eventuais prevaricadores, do que entregar-lhes ao poder judicial centralizado na Vila do Mangui, logo ao primeiro deslize.
SAPO.CV/INFORPRESS.CV-SR
aprendi a construir cimboa com nho eugenio e hpje alem de saber confecionar uma cimboa tambem toco cimboa, é pena que neste momento não estou a toca-la porque não sei onde encontrar o breu. sou um jovem interessado em preservar a cimboa. facebook.com/alexcilino
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