terça-feira, 29 de dezembro de 2009

UE:BANCO CENTRAL EUROPEU E FMI FAZEM AVISOS Á NAVEGAÇÃO


A gestão das finanças públicas está no centro das intervenções, esta semana, do presidente do Banco Central Europeu e do director do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas as recomendações de Marek Belka, do FMI, são mais equilibradas. Os avisos à navegação da gestão das finanças públicas multiplicaram-se esta semana. Primeiro foi o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, no domingo passado ao jornal alemão Bild e ontem foi o responsável pelo Departamento Europeu no Fundo Monetário Internacional (FMI), Marek Belka, em entrevista ao sítio da organização, ainda que com um registo mais completo do que Trichet.
Belka sistematizou a sua recomendação num parágrafo muito claro: "Por agora, apoiem a actividade económica. Mas façam planos para uma saída [termo técnico para abandono de políticas anticrise] cuidadosa. E, finalmente, tratem das instituições financeiras com imparidades de um modo mais enérgico do que estão fazer".
Recorde-se que Trichet falou este domingo ao Bild alemão (Bild am Sontaag - não há, ainda, versão em inglês do artigo por ele escrito) e soube-se, por despachos de agência, que apelava aos Ministros das Finanças dos 16 da Zona Euro para a "consolidação orçamental" - alguns jornais alemães usaram mesmo a expressão "limpeza" das finanças públicas - para já em 2010, em alguns países, e o mais tardar em 2011.
O presidente do BCE está, politicamente, a esticar a corda para "sensibilizar" alguns governos da Zona Euro a ponderarem o alerta vermelho em termos de dívidas públicas elevadas acima de 100% do PIB (como são os casos estimados para o próximo ano da Grécia, Itália e Bélgica) e défices orçamentais, estimados, de novo, para 2010 acima de 10% do PIB em muitos casos (como se espera para a Irlanda, Reino Unido, Grécia e Espanha). Trichet acrescentou, também, que os bancos deverão regressar ao seu papel "central", de financiadores, na economia real, num aviso, claro, a estas instituições.
Cautela do FMI
Marek Belka, director do Departamento Europeu do FMI, foi mais extenso nas suas considerações na entrevista que deu ao IMF Survey online no sítio na Web da organização. Reconheceu a situação muito complexa que se vive na Europa: "O ano de 2010 será dominado por um desafio, o de equilibrar a continuação do apoio à economia com um abandono gradual e faseado das medidas não convencionais". A cautela de Belka deriva do seu diagnóstico: "Estamos no meio de uma retoma, que não é muito robusta, ainda que a situação esteja claramente a melhorar". 2010 vai ser, por isso, "um ano interessante", refere.
O director europeu do FMI sublinha, por isso, que quando fala do abandono das medidas não convencionais está a pensar no caso de políticas financeiras e monetárias, e não tanto em estímulos orçamentais. Diz inclusive que deve ser mantida a tónica de políticas de apoio "pois não estamos seguros de quão robusta é esta retoma".
No campo orçamental, recomenda, que 2011 poderá ser o ano de início da consolidação orçamental e "neste campo apoiamos a abordagem da Comissão Europeia". No entanto, sublinha que "alguns países, terão, sem dúvida, de actuar mais rapidamente, por exemplo, a Grécia, Irlanda e Espanha, que não podem dar-se ao luxo de esperar". Frisa que alguns países no Leste europeu já iniciaram esse processo, como são os casos da Hungria e Roménia, no caso da UE.
Por isso, faz uma chamada de atenção muito clara na área do sistema financeiro: "Na Europa, o sector bancário não está, ainda, em boa forma, como desejaríamos". Contudo, sublinha, é a altura agora de mudar de medidas extraordinárias para evitar a catástrofe financeira para acções focalizadas: "Sabemos que os problemas estão concentrados num número limitado de instituições, por isso os governantes deverão concentrar-se nelas". E, mais adiante, diz mesmo que os bancos frágeis que não conseguirem resolver os seus problemas de capital devem enfrentar o "veredicto".
Três categorias de países
Belka introduz, ainda, uma geometria variável na apreciação da situação dos membros da UE. Fala em três "categorias" de países.
Uma primeira categoria que abrange a Alemanha que sofreu um impacto fortíssimo da recessão mundial e da quebra do comércio internacional, mas em que a situação é, claramente, "temporária".
Um segundo arco abrange países como a Irlanda e a Espanha que sofreram o impacto do rebentar de bolhas domésticas adicionais, e que necessitam de iniciar a sua consolidação orçamental e reconstruir a sua competitividade, o que, "muitas vezes, significa, infelizmente, cortar nos salários".
O terceiro grupo, em que se inclui a Grécia, revela países em que a recessão não foi tão profunda (menos de 1,5% de quebra do PIB estimada para 2009 em comparação com os 5% de quebra na Alemanha), mas em que a situação orçamental é difícil. "A Grécia tem de iniciar agora um ajustamento orçamental doloroso, mas não é tanto por causa da crise. A crise, apenas, trouxe problemas à superfície que se acumulavam há décadas. Provavelmente, problemas similares se verificarão noutras partes da Europa".
Entretanto, parece formar-se, em definitivo, um consenso na Alemanha entre Bundesbank e a Chancelerina Merkel, diz o jornal alemão Der Spiegel. O FMI não deve pôr os pés na Grécia. O assunto grego deve ser resolvido pela UE e pela Zona Euro
EXPRESSO.PT-Por Jorge Nascimento Rodrigues

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