quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CV:Carlos Veiga “É preciso atrair o investimento”


O presidente do MPD, Carlos Veiga esteve recentemente, em Portugal para a apresentação da sua biografia politica. Na ocasião foi entrevistado pelo jornal Correio da Manhã. Veiga afirmou que é preciso acabar com os empecilhos que têm sido colocados ao desenvolvimento do país.


Correio da Manhã - Na sua biografia política, o professor Nuno Manalvo afirma que o Dr. Carlos Veiga é o rosto da liberdade e da democracia de Cabo Verde. Revê-se nesta afirmação?
- Carlos Veiga - A luta pela liberdade, pela mudança e pela democracia em Cabo Verde teve vários rostos. Eu acabo por ser um rosto de síntese de todos esses rostos de uma geração inteira que lutou por isso. Só nesse sentido é que eu sou o rosto da democracia e da mudança.
- José Maria das Neves não está a fazer um bom trabalho?
- Não, não está. Falhou as principais metas a que se propôs. Falhou no que respeita à segurança, à justiça, à política económica, à criação de postos de trabalho. Prometeu um crescimento de dois dígitos e está nos 3%, que é o resultado da remessa de emigrantes. Prometeu que o desemprego estaria abaixo de dois dígitos e está em 22%. Quanto à segurança, se falar com qualquer cabo-verdiano na Praia ou São Vicente vão dizer-lhe que há insegurança.
- A taxa de desemprego em Cabo Verde atingiu 21,7% e afecta sobretudo os jovens. A que se deve?
-Nos jovens, a taxa atinge 47% e nas mulheres cerca de 25%. A taxa de desemprego deve-se ao modelo económico que tem sido seguido. Está-se a crescer para as estatísticas, mas não para as pessoas.
- O que propõe o seu partido?
- Nós propomo-nos a tratar imediatamente dos empecilhos que têm sido postos ao desenvolvimento do país. Esses obstáculos vêm de uma administração que não prima muito pela competência porque está extremamente partidarizada; vêm também do facto de ainda não termos conseguido resolver questões básicas, como a da água, da energia, do saneamento, da qualificação urbana, da habitação, dos transportes, nomeadamente do transporte inter-ilhas e de não termos avançado mais num processo de descentralização que permitisse às ilhas terem poderes administrativos para resolver os seus problemas.
- Isso resolveria o desemprego?
- Não, mas são questões que temos de resolver primeiro. A administração cabo-verdiana funcionou muito mais como um entrave a um conjunto de iniciativas de investidores privados nacionais e estrangeiros. O investimento privado está extremamente condicionado. Nós teríamos de ter um modelo de economia diferente para combater o desemprego. É um consenso que ele tem de se basear no turismo. Mas não fizemos aquilo que era necessário para que o turista viesse e regressasse. Teríamos que ligar o turismo à procura que o sector induz, a uma oferta interna em termos de agricultura, de pescas, da indústria ligeira. Nada do que é utilizado pelos hotéis é produzido em Cabo Verde. É preciso é atrair o investimento. Dar melhores condições de crédito. Acho que o tecido empresarial cabo-verdiano está preparado para esse risco, tem capacidade para o enfrentar com sucesso.
- O País tem condições financeiras para apostar nisso?
- Claro que tem. Temos uma grande credibilidade. Há que priorizar os nossos investimentos, por exemplo, em vez de investirmos numa estrada asfaltada que vai ser utilizada por um número muito reduzido de viaturas, talvez devessemos apostar no saneamento da Cidade da Praia ou na requalificação da Vila de Santa Maria no Sal.
- A criminalidade tem vindo a crescer no país. Cabo Verde tornou-se numa plataforma de transição da droga proveniente da América Latina e África Subsahariana com destino à Europa. Como se pode combater esta realidade quando o país afirma não ter meios suficientes para controlar a costa?
- Primeiro é preciso que se reconheça que existe esse problema. Isso nem sempre tem sido feito. O tráfico de droga é internacional, tem que haver uma corrente internacional para o travar e Cabo Verde tem de participar nela, disponibilizar-se para dar combate sem tréguas a esse tráfico. Mas há medidas que podemos tomar. Temos de melhorar a nossa própria segurança interna, investir na formação das nossas forças de segurança, na sua dotação com alguns recursos que lhe dêem uma grande mobilidade e, sobretudo, apostar naquilo que deve ser uma segurança de proximidade. A segurança não é só a questão da droga. As próprias populações sobretudo nas cidades já não se sentem tão tranquilas no seu dia-a-dia, às vezes sentem-se ameaçadas porque há pequenos furtos, pequenas agressões, pequenos assaltos e isso cria uma sensação de insegurança. Ora isto pode ser combatido.
- Falando agora de uma outra questão que atinge o país : a epidemia de dengue. Vai afectar o turismo?
Afecta necessáriamente. Mas o mais grave é que as pessoas estão muito vulneráveis. Este problema tem de ser uma das prioridades imediatas. Já há mortes. A situação é grave. Cabo Verde conseguiu combater outras epidemias, como a malária, com políticas muito concentradas nessa matéria. Dengue nunca antes tinha existido em Cabo Verde. Acabou por ser importada e provavelmente encontrou condições - nomeadamente de saneamento - para medrar. Agora temos de enfrentar esse desafio. As autoridades estão a fazer aquilo que podem. A sociedade cabo-verdiana e os partidos cabo-verdianos têm de estar unidos para encontrarem soluções.
PERFIL
Carlos Veiga nasceu em São Vicente há 60 anos. Fez os estudos superiores na Cidade da Praia e doutorou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Foi procurador-geral, deputado e primeiro-ministro. Tornou-se numa voz de contestação contra o sistema de partido único do PAICV e é líder do Movimento para a Democracia. É casado e tem cinco filhos.
Expressodasilhas.cv/Correio da Manhã.pt

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