Aparelhos que devem detectar a fiabilidade de uma pessoa através de características físicas são pouco confiáveis e mesmo prejudiciais. Esta é a conclusão de um grupo de cientistas internacionais de renome. É muito duvidoso que os equipamentos de segurança e detectores de mentiras funcionem devidamente.
Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, os governos buscam continuamente novos métodos para melhorar a segurança, sobretudo nos aeroportos. O resultado é o massivo surgimento de aparelhos e programas de computadores que relacionam sinais de estresse físico à suspeita de fraude.
Por exemplo, a alta temperatura do rosto seria um indício de que uma pessoa estaria mentindo. Outros indicadores seriam a mudança da resistência elétrica da pele e o aumento da transpiração nas palmas das mãos. Até a mudança do timbre de voz seria mostra das más intenções de um passageiro. Detectores de mentiras no aeroporto de Moscovo funcionam com este princípio.
Alerta
Ewout Meijer, da universidade de Maastricht, um dos 13 cientistas que deram o alerta, tem muitas dúvidas de que estes aparelhos aumentem a segurança.
“O problema é que a eficácia destes equipamentos não foi demonstrada de nenhuma maneira. Apesar disso, os governos do mundo inteiro os compram. É muito dinheiro do contribuinte (...) e importuna-se as pessoas com equipamentos que não funcionam.”
Meijer diz que esta situação merece crítica e é perigosa. Como os aparelhos não são confiáveis, cria-se uma falsa sensação de segurança. Um terrorista com sangue frio passa facilmente por todos os controles. Por outro lado, o passageiro, que sempre se sente ‘culpável’ ao ver um uniforme, pode converter-se em suspeito sem que haja nenhum motivo real para isso.”
Comércio
O problema está no facto de que os equipamentos de detecção são fabricados e vendidos por empresas comerciais, que não têm nenhum interesse em expor seus produtos ao julgamento da ciência, muito menos quando a eficácia não é a esperada. Muitas vezes os argumentos de eficácia dos fabricantes se baseiam em estudos científicos que não são públicos e que não se pode verificar.
E o poder dos fabricantes é grande. Há pouco tempo, a revista ‘The International Journal of Speech, Language and Law’ retirou uma publicação crítica sobre um programa de computador que analisa a fala, pressionada pela ameaça de um processo jurídico.
Provas
Ewout Meijer opina que há apenas uma solução: submeter o sector de segurança a um controle rígido, similar ao da indústria farmacêutica. "Não se pode pôr no mercado nenhum medicamento que não tenha sido extensamente testado e avaliado por uma série de comissões que estudam as provas científicas de que o remédio é eficaz. Isto se chama ‘medicina baseada em provas’. Também temos que conseguir uma ‘segurança baseada em provas’, de modo que tudo o que se aplique na prática deva ter sua eficiência comprovada cientificamente.”
Ewout Meijer acredita que este tipo de ‘controle de qualidade’ é importante porque é possível, sim, detectar se alguém está falando a verdade mediante aparelhos. Ao medir a resistência elétrica da pele pode-se ver se um suspeito tem conhecimento de um determinado delito. Não é o mesmo que detectar uma mentira, mas pode trazer determinadas informações à tona. E é um método confiável, o que não é o caso de muitos outros métodos.
RNW-Por Thijs Westerbeek
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