ADDIS ABEBA-A agência internacional Oxfam está pedindo uma revisão radical na maneira como doadores internacionais ajudam a Etiópia. Falando à Radio Nederland, um representante da organização destacou os Estados Unidos por manterem uma política ineficiente de ajuda.
O relatório, ‘Band Aids and Beyond’, foi publicado na semana passada, marcando os 25 anos do pesadelo da fome naquele país, quando cerca de um milhão de etíopes morreram. Atualmente, a organização diz que a situação é menos severa, mas a seca é uma constante ameaça de morte, custando mais de 1,1 bilhão de dólares por ano.
Sem surpresa
A falta de avanços em proteger a Etiópia da seca se deve a uma política de ajuda que ignora a prevenção, diz Nick Martleew, consultor de política humanitária da Oxfam para a Etiópia.
“As secas estão se tornando cada vez mais comuns, provavelmente por causa da mudança climática. Então, melhor do que responder a cada seca com uma abordagem dominada pela doação de alimentos – reagindo como se fosse uma surpresa – a comunidade internacional deveria estar fazendo mais para prevenir cada seca de se tornar um desastre que causa o sofrimento humanitário que vemos hoje.”
Lobby dos fazendeiros
A Etiópia recebe 70% de sua ajuda internacional dos Estados Unidos, 90% dela em forma de alimentos enviados por navio dos EUA. Isto provê um alívio temporário durante emergências, mas, no geral, a política norte-americana ficou “estacionada numa era de interesses da guerra fria e no apoio ao lobby dos fazendeiros norte-americanos”, diz Martleew.
“Os contribuintes norte-americanos têm de pagar por alimentos subsidiados, pelo transporte para a Etiópia, e ainda por um desenvolvimento para o qual a ajuda alimentar não contribui. Se uma parte deste dinheiro fosse usada para tentar prevenir desastres e preparar as comunidades para enfrentá-los, elas precisariam de uma ajuda alimentar menos custosa no futuro.”
Prevenção
A Oxfam preferiria ver o dinheiro aplicado em tácticas de prevenção, ajudando as comunidades a se antecipar e se preparar para as inevitáveis secas. Martleew cita o exemplo de um vilarejo etíope que sofria, todo ano, com a escassez de alimentos durante três meses. Ali, a comida foi distribuída apenas em troca de trabalho num projeto de irrigação. A comunidade agora é auto-suficiente o ano todo e ainda tem excedentes para vender.
O governo etíope está propondo exactamente uma abordagem deste tipo, mas não tem como implementar o plano sem ajuda estrangeira. “O que gostaríamos de ver é uma abordagem mais eficiente, tanto para os contribuintes norte-americanos quanto para a Etiópia, e isso significa não importar alimentos, mas procurar construir algo partir da força dos próprios etíopes”, conclui Martleew.
RNW-Por Jan Huisman
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