quarta-feira, 28 de outubro de 2009

TPI:Karadzic identificado no tribunal como "líder supremo" da "limpeza étnica"


HAIA-O julgamento de Radovan Karadzic iniciou-se, terça-feira, em Haia sem a presença do acusado e com o procurador do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia a designá-lo como o "líder supremo" da "limpeza étnica" na Bósnia.

"Este julgamento é o de um comandante supremo, um homem que explorou as forças do nacionalismo, do ódio e do medo para perseguir a sua visão de uma Bósnia etnicamente dividida: Radovan Karadzic", declarou o procurador Alan Tieger.
Radovan Karadzic procedeu a "uma limpeza étnica de grandes proporções na Bósnia-Herzegovina" durante a guerra de 1992-1995, conflito que fez 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados, segundo o procurador.
O antigo líder político dos sérvios da Bósnia é alvo de 11 acusações: duas de genocídio, relativas à morte em 1995 de mais de 7.000 homens e rapazes muçulmanos em Srebrenica e à morte entre 1992 e 1995 de mais 10.000 pessoas no cerco a Sarajevo, e nove de crimes de guerra e contra a humanidade.
Karadzic era "simultaneamente o arquitecto das políticas subjacentes a esses crimes e o líder das forças que os cometeram" em nome "do que considerava serem os interesses sérvios", prosseguiu a acusação.
Karadzic quis "criar um Estado sérvio no que considerava ser um território historicamente sérvio e libertá-lo daqueles que via como seus inimigos", os muçulmanos e os croatas, que na altura perfaziam 60% da população bósnia, disse Tieger.
O procurador referiu-se aos campos de detenção, como o de Prijedor (noroeste da Bósnia) onde os prisioneiros estavam fechados "como animais", e à campanha de bombardeamentos orquestrada pelo exército sérvio-bósnio durante o cerco de Sarajevo, que fez um total de 10 mil mortos.
"Os habitantes viveram no terror durante anos", afirmou, referindo-se aos atiradores furtivos servio-bósnios posicionados em volta da capital, à falta de alimentos e de electricidade: "Era uma cidade onde qualquer actividade era feita com risco de vida e onde nenhum local era seguro".
Alan Tieger afirmou que algumas das provas recolhidas contra Karadzic são conversas telefónicas do acusado que foram interceptadas e transcrições dos seus discursos aos deputados sérvios-bósnios durante a guerra. O procurador disse ainda que o tribunal vai ouvir os testemunhos de antigos colaboradores, observadores internacionais e vítimas.
O julgamento de Karadzic, 64 anos, deveria ter-se iniciado segunda-feira, mas o acusado, que optou por se defender a si próprio, não compareceu com o argumento de que a sua defesa não está pronta.
O colectivo de juízes decidiu que o julgamento deve prosseguir sem a sua presença.
O presidente do colectivo, o juiz O-Gon Kwon, lamentou a ausência de Karadzic e disse que, se o boicote se prolongar, vai ponderar nomear um advogado que represente o acusado. O-Gon Kwon disse no entanto que não tomará essa decisão antes de segunda-feira, dia em que a acusação deve terminar a apresentação do caso.
Dezenas de sobreviventes da guerra assistiram a esta primeira sessão.
JN.PT

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