COPENHAGA-O Prémio Nobel da Paz Desmond Tutu vestiu hoje o papel de juiz num tribunal encenado em Copenhaga para ouvir os testemunhos de quatro vítimas das alterações climáticas e lembrar aos líderes mundiais que «apenas existe uma Terra onde viver»«Aqueles que irão testemunhar são todos pais, mães e crianças cujas vidas foram devastadas por desastres naturais que não param de se multiplicar», afirmou o arcebispo sul-africano, na abertura de um julgamento simulado que hoje decorreu à margem da conferência da ONU sobre alterações climáticas, em Copenhaga.
Na iniciativa da organização internacional Oxfam, que também contou com a participação de Mary Robinson, antiga Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Desmond Tutu instou as 192 delegações participantes em Copenhaga e os líderes mundiais para chegarem a acordo sobre um acordo climático vinculativo até sexta-feira e acabarem com um «desastre em movimento».
«Estamos aqui para dizer aos líderes [dos quais mais de uma centena são esperados entre quinta e sexta-feira, para o encerramento da conferência] que só temos uma Terra onde viver. Se a destruirmos, não haverá outra (…). Ou ultrapassamos esta situação ou afundamo-nos juntos», frisou o Nobel da Paz de 1984.
Um dos testemunhos ouvidos na sessão foi o de Shorbanu Khatun, uma menina que já sentiu na flor da pele os efeitos das alterações climáticas no Bangladesh, onde a subida do nível do mar e diversos desastres naturais têm vindo a causar grandes estragos nos últimos anos.
«De repente, faz muito calor e a chuva começa a faltar. Não tivemos Inverno nenhum. Há menos peixes e as doenças de pele, dores de cabeça e diarreia tornaram-se comuns», contou, lembrando que há seis meses atrás o ciclone Aila, que provocou duas centenas de mortes no Bangladesh e na Índia, lhe levou «o pouco que tinha».
«Ouvi dizer que as alterações climáticas são influenciadas pela actividade humana. Isto significa que podemos fazer alguma coisa», observou Shorbanu Khatun.
Já Constance Okollet, do Uganda, descreveu que ele e a sua família já não sabem «quando plantar, colher ou comer», e exigiu aos países ricos que lhe «devolvam as estações do ano» e façam algo para travar as alterações climáticas que põem em risco «as futuras gerações» do seu país.
O testemunho de Tuvalu, pequena nação insular no Pacífico com onze mil habitantes, coube a Pelenise Alofa, que disse ter medo «de sair porque a água escoa até à sua casa» com a subida do nível do mar, que ameaça engolir o pequeno arquipélago.
«Precisamos de medidas imediatas e temporárias porque se esperarmos pelas definitivas o nosso país terá já desaparecido. Se precisarmos de uma barragem, é preciso que esta seja construída imediatamente, se precisarmos de um tanque, devemos tê-lo agora!», defendeu.
No final do julgamento, Mary Robinson apresentou o veredicto final: «As alterações climáticas ameaçam os direitos humanos numa escala sem precedentes (…). É uma injustiça profunda e global (…). É vital que as negociações em Copenhaga resultem num acordo justo, ambicioso e vinculativo».
Delegações de 192 países estão reunidas até 18 de Dezembro em Copenhaga naquele que é já considerado o maior e mais importante encontro de sempre sobre o clima.
O objectivo é chegar a consenso em relação ao texto para um acordo legalmente vinculativo, que concretize os objectivos necessários para assegurar que o aquecimento global não será superior a dois graus centígrados em relação à era pré-industrial.
Lusa / SOL
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