PARIS-A Unesco tem a partir desta semana uma nova directora-geral: a búlgara Irina Bokova.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura será com isso pela primeira vez dirigida por uma mulher e por alguém do leste europeu. A nova diretora quer diálogo, mas não tem papas na língua.
Irina Bokova tem grandes ambições. Ela quer promover o diálogo entre muçulmanos, judeus e cristãos no mundo, quer promover o respeito mútuo e defende a tolerância. Mas em uma entrevista à Radio Nederland ela coloca-se, imediatamente, em firme posição contra a burca – o traje tradicional usado por mulheres em países como o Afeganistão.
“Pessoalmente, sou contra”, diz Irina Bokova. “Algumas mulheres de burca não podem sequer ver a luz. A burca coloca a mulher numa posição inferior, cria problemas e dá a sensação de que elas não são iguais aos homens.”
Autoconfiança
A nova diretora da Unesco é rígida. Segundo ela, a conhecida roupa usada por algumas muçulmanas não traz nada de bom – mesmo agora que mulheres de burca são cada vez mais comuns também nas cidades europeias. Segundo Bokova, mulheres que usam burca têm que ter mais autoconsciência e ganhar autoconfiança.
”Acho que a Unesco tem que promover educação, educação e mais educação para mulheres. Pois esta é a única maneira de mudar ao mesmo tempo o comportamento e a mentalidade destas mulheres. Não podemos simplesmente dizer: sou contra a burca. Temos que mudar a sociedade, educar as mulheres e conseguir que elas ocupem altas posições, e assim podemos mudar a realidade delas.”
São afirmações que chamam a atenção, já que a Unesco defende o respeito e tolerância mútuos. Mas Bokova vê o aumento do uso da burca, principalmente na Europa Ocidental, como um choque de culturas. E isso tem que ser resolvido. O que para ela significa: a burca tem que ser banida.
Irina Bokova venceu o egípcio Farouk Hosni na corrida para a direção da Unesco. Ele era visto como favorito, mas no final não foi escolhido – presumivelmente por suas controversas declarações anti-semitas.
Comunista
Bokova, de 57 anos de idade, é desde 2005 representante da Bulgária na Unesco. Ela cresceu na elite do repressivo regime comunista da Bulgária. Seu pai era redator-chefe do jornal estatal. Na juventude, Irina estudou em Moscovo, seguindo depois a carreira diplomática em nome do regime comunista. E agora, como directora da Unesco, ela deverá defender a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. E ela acha que pode, pois, embora no passado tenha representado um regime opressivo, nos últimos 20 anos mostrou-se uma democrata.
”Eu me distanciei do regime daquela época. Nos últimos 20 anos, após a queda do muro de Berlim, actuei na política e trabalhei para a aproximação da Bulgária com a Otan e a União Europeia. Fiz muito lobby para isso”, diz Bokova.
Rolo compressor
Nos próximos quatro anos, portanto, ela tem um novo desafio: dar um impulso à Unesco, que tem quase 200 países membros e um orçamento anual de mais de 300 milhões de dólares. Mas o número de membros e os milhões de dólares também são um problema: a Unesco é frequentemente acusada se ser um rolo compressor burocrático onde se desperdiça dinheiro.
”Uma das primeiras coisas que irei fazer é enfrentar a burocracia”, diz Bokova. “Para isso haverá uma equipa especial que deve acabar com os problemas de burocracia em alguns meses.”
Além disso, ela diz que a Unesco também tem que tornar-se mais flexível. Actualmente, a coordenação entre os diferentes departamentos não é boa.
Bokova anuncia que nos próximos anos quer cortar pelo menos 10% dos gastos de administração. Ela prefere colocar este dinheiro em programas e projectos concretos, em países e pessoas que precisam dele.
RNW-Por Frank Renout



Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentar com elegância e com respeito para o próximo.