segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ANGOLA:Angolanos expulsos do Congo não param de chegar a Kimbata



UIGE-O pequeno posto médico de Kimbata, Uíge, na fronteira angolana com a República Democrática do Congo (RDC), está a rebentar pelas costuras com as centenas de angolanos que ali chegam diariamente expulsos do país vizinho.

Nas duas pequenas salas do posto idosos e recém-nascidos misturam-se, sentados no chão, enquanto esperam ser atendidos pelos dois enfermeiros e uma parteira, que fazem o que podem para aliviar o sofrimento provocado essencialmente pela malária e diarreias. A estas patologias junta-se o cansaço de dias de viagem em camiões de carga, ou, em alguns casos, a pé, desde as localidades de onde estão a ser expulsos pelas autoridades da RDC desde a passada segunda-feira.
Arriete Ka Mutundua, enfermeira parteira do posto médico de Kimbata, diz que a capacidade de resposta do pessoal clínico foi "imediatamente ultrapassada" logo que começaram a chegar as primeiras dezenas de pessoas expulsas da RDC. A solução foi colocar uma ambulância todo-o-terreno para transportar os casos mais graves para a sede municipal de Maquela do Zombo. "Aqui recebemos e tratamos os casos menos graves. Mas a verdade é que este posto não estava nem está preparado para receber centenas de pessoas diariamente", aponta a enfermeira Arriete Ka Mutundua. Enquanto fala a enfermeira Mutundua mostra a pequena sala lotada por mães com crianças ao colo, algumas com meses, e idosos a quem a viagem de dias em cima de camiões de carga deixou marcas que a equipa médica do posto de Kimbata procura reparar.
Apesar do reforço feito pelas autoridades de saúde provinciais do Uíge em medicamentos e água, estes "nunca são suficientes", conta a enfermeira parteira, sublinhando que, com o passar os dias "e o aumento dos que chegam do outro lado da fronteira, é mais difícil" o posto ser eficaz.
Desde 5 de Outubro já passaram mais de 3.000 pessoas pelo posto fronteiriço de Kimbata, num total de quase 4.000 que passaram nas três fronteiras que o município de Maquela do Zombo mantém com a RDC.
Em Zaire, Cabinda e Uíge, as três províncias onde se concentra a maioria dos angolanos expulsos da RDC, as autoridades angolanas já contabilizaram mais de 30.000 pessoas.
O plano que o Governo angolano elaborou para responder a esta situação prevê a concentração de pessoas nos locais de chegada e, feita a triagem, estas são deslocadas para acampamentos nas sedes municipais, sendo posteriormente transportadas para os locais onde têm família.
O Governo já garantiu que "ninguém vai ficar sem apoio", mas as dificuldades em fazer chegar a estes locais bens essenciais, alimentos e tendas para um número crescente de pessoas aumentam diariamente.
Para minimizar os problemas a directora provincial do Ministério da Assistência e Reinserção Social, Helena Ferraz, já apelou a ONG e empresários que façam chegar aos acampamentos "toda a ajuda possível".
O cenário que se repete ao longo de todas as fronteiras nos 2.000 quilómetros que separam Angola da República Democrática do Congo surgiu de uma decisão aprovada pelo Parlamento de Kinshasa para expulsar todos os angolanos do país, sem excepção.
Entre os expulsos da RDC estão, maioritariamente, angolanos que se refugiaram no país vizinho durante a guerra civil no seu país, alguns há décadas, mas também empresários, estudantes, professores e freiras colocadas em missões católicas.
OJE/LUSA.PT

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