quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Brasil:SITUAÇÃO DIFICIL PARA OS BRASILEIROS NA IRLANDA

Brasileiros na Irlanda


Até há poucos anos havia cerca de mil e quinhentos brasileiros a viver na pequena vila de Gort, na região ocidental da República da Irlanda. Esse número representava metade da população local.
Originalmente os brasileiros trabalhavam na indústria de carnes mas, depois, envolveram-se também noutras áreas abertas pelo então espectacular desempenho económico irlandês.
Mas, tal como no resto do mundo, a economia da Irlanda também está agora em recessão. E quase 70% dos brasileiros decidiram abandonar a vila de Gort.
Pelas manhãs, na praça central de Gort juntam-se em pequenos grupos.
Tratam-se de homens à espera que um fazendeiro, um construtor civil ou alguém à procura de um jardineiro apareça e lhes ofereça um dia de trabalho.
Normalmente cobram cerca de 70 euros por dia.
Os empregadores são irlandeses, e o seu número diminuiu muito no último ano. Os homens à espera de trabalho são brasileiros.
Entre os cerca de 20 na praça esta manhã está Henrique, que acha a vida cada vez mais difícil.
"Estou cá há quase sete anos e posso dizer que este é o pior período que vi aqui na Irlanda. Mas tenho que tentar arranjar trabalho. Não me posso dar ao luxo de escolher. Vou ficar por cá durante mais uns anos. A minha família toda está cá."
Década de bonança
Os brasileiros começaram a chegar à República da Irlanda há cerca de 10 anos idos principalmente de um bairro dos arredores de Anápolis, a terceira maior cidade do Estado de Goiás.
A indústria de carnes em Anápolis estava em declínio, enquanto que a Irlanda precisava desesperadamente de gente para os trabalhos que a população local já não queria fazer.
Os brasileiros desembarcavam dos aviões e, praticamente, tinham empregos garantidos.
Mas, há cerca de um ano e meio a coisa começou a mudar.
Frank Murray, da Agência Irlandesa de Combate à Pobreza, fez um estudo sobre o que se passou com a economia do país.
"Entre 1999 e 2007 a economia estava a crescer e não tínhamos gente suficiente para trabalhar. Muitos realizaram os seus sonhos. Mas os que chegaram nos últimos dois anos encontraram muitas dificuldades. E agora não há empregos."
A vila de Gort tem agora cerca de um terço dos mil e quinhentos brasileiros que começaram a chegar há uma década.
Muitos dizem que estes números vão baixar ainda mais nos próximos meses, com o desaparecimento do trabalho sazonal.
Durante cinco anos Carlos sustentou a família trabalhando como pintor e decorador.
Regresso ao Brasil
Ele e Wanda têm uma casa num condomínio onde 50% dos residentes são brasileiros.
Mas agora não há empregos e, em Dezembro, segundo Wanda, a família vai regressar ao Brasil.
"Eu vim aqui para a Irlanda em busca de um ideal. Vivemos cá há já quatro anos e meio e vamos agora regressar ao Brasil porque acho que já é altura para voltar ao nosso país."
Tal como quase todos os brasileiros que chegaram à Irlanda antes de 2007, Wanda diz que a sua família conseguiu sucesso.
"Graças a Deus, foi uma experiência positiva. Não conseguimos tudo o que queríamos mas conseguimos juntar algum dinheiro para começar uma nova vida no Brasil. Também fizemos novas amizades e ficámos a conhecer a Irlanda."
Frank Murray, da Agência Irlandesa de Combate à Pobreza, diz que a sorte de Wanda e da família não é extensiva a toda a gente.
"Há muitos brasileiros agora a ficar na pobreza extrema porque não têm dinheiro para regressar ao Brasil. Não têm acesso a benefícios sociais porque estão ilegalmente na Irlanda. Poderão até ter pago impostos mas não têm documentação para reclamar os descontos que fizeram."
Desemprego
Há muito poucas tensões sociais, apesar de ser também verdade que as comunidades brasileira e irlandesa socializam separadamente.
No Kilroy's Bar, em Gort, nas tardes de domingo, são os irlandeses que se divertem.
Durante séculos saíram da região milhares de pessoas para a Grã-Bretanha e para os EUA. Nos últimos anos a Irlanda importou mão-de-obra.
Mick, um dos clientes do Kilroy's Bar, recentemente desempregado, diz que tudo mudou.
"Há desemprego por toda a parte. Nós fomos atingidos antes dos brasileiros porque eles trabalham por menos dinheiro. Por isso, fomos os primeiros a ficar desempregados. Os irlandeses, às vezes, não os primeiros a perder o emprego. Os brasileiros têm salários que nós não aceitamos."
Toda a gente acha que a maioria esmagadora dos brasileiros vai abandonar a vila de Gort nos próximos meses.

Mas muitos dos que estão de regresso ao Brasil conseguiram na Irlanda uma estabilidade financeira que jamais conseguiriam no seu próprio país - ainda que, por agora, os tempos de bonança tenham chegado ao fim.
BBC em português Para Africa-Por Vicent Dowd

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