quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CV:CABO VERDE NA SENDA DO PETRÓLEO


BRASILIA-Em entrevista divulgada na quarta-feira pela agência Lusa em Brasília, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, disse que Cabo Verde pretende utilizar a experiência do Brasil, nomeadamente da Petrobras, na prospecção de petróleo na respectiva zona costeira, levantando o véu sobre um dos temas que mais discretamente tem passado no panorama noticioso do país.

No entanto a partir de Junho as notícias começaram a aumentar, quando a Líbia, um dos principais produtores de petróleo em África, abriu um banco comercial em Cabo Verde e, pouco depois, o arquipélago anunciou a intenção de alargar as águas territoriais para além das 200 milhas náuticas, processo que durará até 2015.
A série de notícias avançou com os contactos com a empresa estatal angolana Sonangol e com congéneres da Noruega e Austrália.
Na recente visita efectuada à Venezuela o chefe da diplomacia cabo-verdiana, José Brito, ele próprio engenheiro de petróleos, indicou ter ficado apalavrada a construção de uma refinaria em Cabo Verde.
De Marrocos houve a notícia de que a visita, entretanto adiada "sine die", do rei Mohamed VI viesse ajudar Cabo Verde a encontrar verbas para os estudos de extensão da plataforma continental para as 350 milhas, com apoio do Brasil e de Portugal.
Fontes oficiais, que solicitaram anonimato, admitiram à agência Lusa que há petróleo em Cabo Verde, embora salientem que se encontra em águas "muito profundas" e que a relação custo/benefício será "muito elevada".
As fontes lembram que não nasceu do acaso o acordo de delimitação da fronteira marítima entre Cabo Verde e Mauritânia, datado do início desta década, sabendo-se que a plataforma continental mauritaniana contém petróleo e gás natural, e que existe um "veio" que se estende até às ilhas da Boavista e Maio.
Numa entrevista concedida em 2003 ao jornal A Semana, Gualberto do Rosário, antigo primeiro-ministro (2000/01), sublinhou que Cabo Verde já tinha conhecimento das potencialidades petrolíferas do país desde o primeiro mandato governamental (1991/96) do Movimento para a Democracia (MpD, hoje na oposição). Na ocasião houve uma disputa "dura" com o Senegal, que queria obrigar Cabo Verde a delimitar as fronteiras marítimas muito além das disposições legais, tendo, por essa razão, sido contactadas a Petrobras e a Shell International, que apoiaram na batalha jurídica que se seguiu e que viria dar razão às autoridades cabo-verdianas.
A possibilidade de Cabo Verde entrar no "mapa do petróleo" é um tema que já vem desde os anos 60, ainda durante o regime colonial português, que chegou a pensar poder transformar o arquipélago num entreposto no Atlântico. A ideia era, segundo os relatos da imprensa da altura, trazer o crude do Golfo Pérsico, em superpetroleiros, que o descarregaria em petroleiros menores, dada a pouca profundidade dos portos da costa leste dos EUA, projecto que viria a ser abandonado quando se deu a revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal.

Pedro Pires considera que o petróleo deve ser bem aproveitado
O presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, afirmou hoje que se o país tiver petróleo tentará seguir o exemplo da Noruega e "aproveitá-lo bem", garantindo não temer que este se transforme numa maldição, como sucedeu em muitos países.

"Sou contra a ideia de que o petróleo é desgraça. O que Deus nos dá é um bem. Nós é que temos de saber tirar proveito e, se tivermos petróleo, encontrar forma de o fazer", garantiu o Chefe de Estado, ressalvando que o petróleo em Cabo Verde "é ainda uma hipótese, não é um facto".
Pedro Pires comentava assim à Lusa, em Berlim, declarações do primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves, em Brasília, onde anunciou que deseja que a energética Petrobras faça prospecção de petróleo em águas ultra-profundas de Cabo Verde.
"Queremos a participação do Brasil nos sectores da construção civil e das energias fósseis e renováveis. Estamos a estudar a possibilidade de prospecção em águas ultraprofundas", afirmou o primeiro-ministro cabo-verdiano, em entrevista à Lusa, na capital brasileira, lembrando que a Petrobras é referência internacional nesta área e detém tecnologia própria.
OJE/LUSA

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