LUANDA-Nos bairros do Mabor, Petrangol, Palanca e Kikolo concentra-se o maior número de cidadãos da República Democrática do Congo (RDC) em Luanda, mas, por receio e para facilitar a integração, quase todos os congoleses se identificam como "angolanos" do Uíge.
No bairro do Mabor, um dos locais de maior concentração de cidadãos oriundos da RDC, apenas uma mulher congolesa, "zungueira" (vendedora de rua), aceitou falar à Agência Lusa, impondo como condição não ser identificada.
A mulher disse que, desde que se começaram a ouvir as primeiras notícias das expulsões de angolanos da RDC, como retaliação pelos milhares de congoleses repatriados das regiões diamantíferas das Lundas, surgiram os receios.
"Mas até agora (no bairro) não aconteceu nada", afirmou a mulher, que faz a sua vida de "zungueira" há 11 anos em Luanda, admitindo, contudo, que "alguns falam já de furtos de mercadorias" de congoleses.
Todos os congolenses que a mulher conhece "fazem a sua vida normal", muitos casaram com angolanos ou angolanas e até "falam muito bem português".
A dificuldade de os congoleses se identificarem como cidadãos da RDC não surgiu com a crise migratória originada pelos milhares repatriados de Angola ou, desde 05 de Outubro, com os mais de 35 mil angolanos expulsos do Congo em retaliação.
A capital angolana é, há 30 anos, lar para cerca de 11 900 cidadãos da região de Katanga, RDC, de onde fugiram da guerra e estão registados pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Esta presença tem presença inclusive na toponímia luandense, onde existe, por exemplo, o Mercado dos congolenses, mas, também ali, apesar da insistência da Lusa todos se assumem como angolanos, quase sempre da província do Uíge.
A província do Uíge está encostada à fronteira com a RDC, onde se falam as mesmas línguas, o Kikongo e Lingala, e onde apenas a linha política separa um povo que, na cultura e no sangue, partilham o mesmo passado e presente.
A integração dos congoleses em Luanda foi rápida e a maioria, logo que chegou, assumiu-se como angolana.
Com a actual crise migratória entre os dois países, a "angolanidade" tornou-se ainda mais valorizada.
No entanto, a crise conduziu a saques e agressões a comerciantes congoleses nos mercados do Roque Santeiro e Kikolo, em Luanda.
O comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, veio a público afirmar que as forças da ordem não vão "tolerar" quaisquer actos que atentem contra estas pessoas, sejam agressões ou pilhagens, considerando que os actos de violência ocorridos foram "isolados".
Além dos 11 900 refugiados registados pela representação do ACNUR em Angola, o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, general Francisco Furtado, admitiu à Lusa que estão em Angola mais de um milhão de congoleses-democráticos.
LUSA/DN
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