segunda-feira, 12 de outubro de 2009

PERSONAGENS:OS DOIS AMIGOS AMERICANOS


Os dois amigos americanos

Quando Chicago perdeu para o Rio de Janeiro os Jogos Olímpicos de 2016, parecia que o Presidente brasileiro derrotara o dos EUA. Mas este respondeu com o Nobel da Paz.
Lula de Silva
De 'pau de arara' para São Paulo
O sétimo de oito filhos de um casal de camponeses, Luis Inácio da Silva nasceu no interior de Pernambuco a 27 de Outubro de 1945. A procura de melhores condições de vida, levou a família a imigrar para São Paulo. Aos sete anos fez a viagem de 13 dias num "pau de arara" (um camião de caixa aberta adaptado para transporte de passageiros). Nos estudos, não foi além do quinto ano, tendo começado a trabalhar aos 12 numa tinturaria. Foi ainda engraxador antes de entrar numa fábrica de parafusos, aproveitando o tempo livre para tirar o curso de metalúrgico.
'Lula' chega ao Palácio do Planalto
Trabalhava numa das principais metalúrgica do Brasil, quando se envolveu no movimento sindical, chegando a presidente em 1975. Por essa altura, já perdera o dedo mindinho num acidente de trabalho e adoptara a alcunha de 'Lula'. Em 1980, ainda na ditadura, fundou o Partido dos Trabalhadores. Deputado federal mais votado para a Assembleia Constituinte de 1986, foi escolhido como candidato do PT à presidência. Por três vezes falhou a eleição para o Planalto, antes de garantir os 53 milhões de votos que o levaram finalmente a Brasília em 2002. Quatro anos depois foi reeleito com cinco milhões de votos.
Bolsa-família e o "mensalão"
Ao contrário do que temia a direita brasileira, Lula não rompeu com a política económica do seu antecessor. Aproveitando um clima económico mundial favorável e o aumento da procura externa de produtos como o etanol e a soja, usou o dinheiro para apostar forte nos planos sociais. O mais conhecido é o Bolsa-Família, que garante um rendimento mínimo para os mais necessitados (11 milhões de famílias em 2007) e goza de uma popularidade acima dos 75%. Nem a crise do "mensalão" em 2005, que revelou o esquema de pagamento de votos e de financiamento ilegal do PT, abalou essa popularidade.
"I love this man"
A nível internacional, a chegada de Lula à Presidência não foi aceite com bons olhos. Afinal, a esquerda sempre foi mal vista e, mais a norte, o venezuelano Hugo Chávez já começava a dar que falar. Mas Lula nunca seguiu um discurso populista, estendendo a mão a todos e ganhou não só uma voz no continente, mas no mundo. Apesar das suas origens humildes, adaptou-se perfeitamente aos cenários internacionais e ganhou rapidamente fãs, incluindo o próprio Obama que não hesitou em desabafar "I love this man" ("adoro este homem") na cimeira do G20 em Londres.
Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro
Depois de ter provado que o Brasil consegue organizar um grande evento desportivo (que não inclua apenas futebol) com os Jogos Pan-americanos de 2007, Lula apostou tudo em levar os Jogos Olímpicos de 2016 para o Rio de Janeiro. Em Copenhaga, quando se realizou o seu sonho, teve de puxar de um lenço para limpar as lágrimas. Por muito que o dossier da organização estivesse bem preparado pelos responsáveis do Rio, a vitória foi também pessoal para Lula. Em 2016, poderá mesmo assistir às cerimónias de abertura não como mero ex-presidente mas como Chefe do Estado em exercício. É que a lei impede que se candidate em 2010, mas não em 2014. Susana Salvador

Barack Obama
Do Havai a Harvard
Só quando chegou à adolescência é que Barack Obama percebeu que era diferente dos outros meninos que frequentavam a escola de Punahou, no Havai. Filho de um queniano e de uma americana do Kansas, o rapaz nascido a 4 de Agosto de 1961 passou então a viver dividido entre a família materna branca e os amigos negros. Pelo meio ficou uma experiência de quatro anos numa escola muçulmana na Indonésia, terra do padrasto. Terminado o liceu, foi estudar para Los Angeles e Nova Iorque. Aí formou-se em Direito, tendo sido o primeiro presidente negro da prestigiada Revista de Direito de Harvard.
Primeiro negro na Casa Branca
Foi em Chicago, onde deu aulas na Universidade, que Obama conheceu a mulher, Michelle. Foi ali também que se tornou activista social. Daí ao Senado estadual do Ilinóis, para o qual foi eleito em 1996, foi um passo. E em 2002, o jovem opositor à invasão do Iraque chegou a Washington como senador federal. A sua candidatura à Casa Branca começou por ser levada na brincadeira, mas uma mensagem de mudança não só derrotou Hillary Clinton nas primárias democratas, como lhe deu a vitória sobre o senador John McCain, veterano e herói da guerra no Vietname. A 20 de Janeiro de 2009, Obama tomava posse em Washington, tornando-se no primeiro presidente negro dos Estados Unidos - um momento de viragem para o país.
Guantánamo e a reforma da saúde
Ainda mal acabara de desfazer as malas e já Obama mandara suspender os tribunais militares para julgar os presos de Guantánamo. Fechar a prisão até Janeiro de 2010 é uma promessa do Presidente, mas onde colocar os mais de 200 suspeitos que ainda ali se encontram é uma dor de cabeça. Portugal é dos poucos países que já aceitaram receber alguns - neste caso, dois sírios. Confrontado com uma crise económica como não se via desde os anos 1930, Obama conseguiu aprovar um plano de estímulo de 797 mil milhões de dólares. Mas o seu plano de reforma da saúde valeu-lhe os primeiros protestos da direita, que o apelidou de comunista e nazi. A sua popularidade que estava quase nos 70% quando foi eleito caiu para os 50%.
Poder do "irmão africano"
Como líder da maior potência mundial, Obama atrai os olhares do mundo. E com a saída de George W. Bush da Casa Branca, até os inimigos da América esperavam uma mudança na política dos EUA. E Obama esforçou-se por o conseguir. Levantou as restrições às viagens para Cuba; prometeu fechar Guantánamo e retirar as tropas do Iraque, disse-se disposto a dialogar com o Irão e juntou em Nova Iorque os líderes israelita e palestiniano. A popularidade dos EUA já se ressentiu, tendo subido em relação a 2008 na generalidade dos países, sobretudo os muçulmanos. E até o líbio Muammar Kadhafi lhe chama "irmão africano".
Um Nobel surpreendente
Após a "derrota" pessoal que representou o afastamento de Chicago na corrida à organização dos Jogos Olímpicos de 2016, Barack Obama foi acordado na madrugada na sexta-feira com uma notícia surpreendente: fora o escolhido para Nobel da Paz. O Presidente disse achar que não merece o prémio, mas aceitou-o como um "apelo à acção". O dinheiro, esse, irá para a caridade.Helena Tecedeiro
DN.PT-por SUSANA SALVADOR, HELENA TECEDEIRO

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