Igreja considera escandalosas as afirmações de Saramago
A Igreja Católica está, uma vez mais, ofendida com José Saramago. No lançamento do novo livro o Nobel da Literatura disse que "a Bíblia é um manual de maus costumes". A Igreja diz que são afirmações escandalosas que revelam ignorância e presunção.O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Padre Manuel Morujão, classificou o novo livro de José Saramago como uma "operação de publicidade" e considerou que não fica bem a um Prémio Nobel entrar em tom de "ofensa".
"Parece-me ser uma operação de publicidade porque dizer bem da Bíblia, os grandes e os sábios o dizem como livro religioso, mas também como livro cultural. Ter uma opinião diferente e dizer que é um livro de maus costumes e onde se dizem coisas que não têm sentido nenhum causa impacto".
Para o padre Manuel Morujão, "um escritor da craveira de José Saramago deveria ir por um caminho mais sério". "Poderá fazer as suas críticas, mas entrar num género de ofensa não fica bem a ninguém, sobretudo quem tem um estatuto de prémio Nobel", referiu.
Saramago deve ser "mais cuidadoso"
"Quando [José Saramago] escreve sobre a temática bíblica devia ser mais cuidadoso, informar-se melhor", afirmou D. Manuel Clemente.
"Interrogo-me se é assim tão legítimo evocarmos figuras e episódios com um sentido que não é aquele que eles têm", continuou o bispo do Porto, acrescentando que "qualquer leitor da Bíblia sabe que aqueles episódios, aquelas figuras têm outros significados que não é aquele pelo qual ele [Saramago] se bate".
D. Manuel Clemente reconheceu "estar curioso" para ler o último livro de José Saramago, "Caim", "até por dever de ofício e para ter mais conhecimento de causa".
Apesar de tudo, o bispo do Porto disse ser um leitor do Nobel da Literatura de 1998, admitindo qualidades, como ser "um óptimo criador de estórias e enredos", bem como de "descrições magníficas".
Em algumas das suas obras, como "Ensaio sobre a Cegueira", "atinge uma profundidade em termos de humanidade", acrescentou.
D. Manuel Clemente falava em Torres Vedras, à margem da apresentação do programa do bicentenário das Linhas de Torres Vedras, de que é comissário.
Saramago escolheu Caim, a Bíblia prefere Abel, diz padre Peter Stilwell
"Seria espantoso que um escritor como José Saramago, ateu professo, encontrasse algo de divino na Bíblia ou no Corão. Mas esperar-se-ia que reconhecesse, abertamente, o valor de obras que estão entre os grandes textos do património literário da humanidade", comentou à Lusa o padre Peter Stilwell, teólogo e responsável pelo Departamento das Relações Ecuménicas no Patriarcado de Lisboa.
"Se a ideologia não o permite [reconhecer o valor literário daquelas obras], pelo menos na prática, acaba por reconhecê-lo, ao elegê-los como alvo privilegiado do seu combate", acrescentou.
O padre Peter Stilwell considerou ainda "curioso" que Saramago tenha confessado, "com a maior candura, o fascínio que nele exerceu a narrativa bíblica do fratricida Caim", isto depois de ter disparado "uma salva defensiva contra tudo quanto seja religião".
"Porque prefere a Bíblia a vítima, Abel?", interrogou.
Sociedade Bíblica recorda que a Bíblia é o livro mais lido de sempre
A Sociedade Bíblica de Portugal (SBP), uma das principais editoras da Bíblia, escusou-se hoje a comentar as declarações de José Saramago, recordando apenas tratar-se "do livro mais traduzido, mais vendido e lido de sempre".
"Actualmente, o interesse e procura dos textos bíblicos por pessoas de todas as culturas, idades, níveis de instrução e convicções é absolutamente incomparável", acrescentou à Lusa Alfredo Abreu, responsável da comunicação da SBP.
Sic/Lusa
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