sábado, 10 de outubro de 2009

SAÚDE:Medicamentos falsos se espalham pelo mundo


Os serviços de saúde em países em desenvolvimento estão sendo inundados com remédios falsos. Medicamentos que não trazem a quantidade correta de substâncias activas ou que são feitos de talco ou farinha. Enquanto nos países ricos a preocupação é com falsificações de Viagra, em países em desenvolvimento há pessoas morrendo porque os remédios que poderiam salvar suas vidas não fazem efeito.

O problema acontece principalmente na África e em partes da Ásia. Medicamentos falsos estão entre os verdadeiros nas prateleiras e não são identificáveis só pelo olhar, diz David Overbosch, diretor da Clínica Móvel do Hospital do Porto de Roterdão. Na África, ele obteve caixas de comprimidos para malária que tinham até o holograma falsificado. Só se descobriu que o medicamento era falso depois de uma análise química dos comprimidos.
”E se você realmente precisa de remédios como antibióticos ou medicamento anti-malária, e se você trata crianças com comprimidos que não têm nenhuma substância ativa, elas morrem”, enfatiza o médico.
Mercado sinistro
Às vezes algum escândalo vem à tona. Por exemplo, quando dezenas de crianças morreram no Haiti porque um xarope para tosse continha uma substância venenosa. E às vezes a realidade deste mercado sinistro chega até a Europa. No início deste ano, a alfândega britânica interceptou um carregamento de pílulas falsas para esquizofrenia feitas na China e endereçadas ao serviço de saúde britânico.
Não se sabe quantas pessoas morrem por causa de medicamentos maus. Apenas na África, acredita-se que cheguem a dezenas de milhares por ano. E remédios falsos também podem aumentar a resistência de elementos patogênicos.

Segurança
A Fundação IDA, que se empenha por medicamentos a preços mais acessíveis para países em desenvolvimento, trabalha para criar um laboratório móvel onde as farmácias e serviços de saúde possam testar medicamentos suspeitos, conta o representante da fundação, Maarten Neve.
“Quando um medicamento é suprido por nós, podemos garantir a qualidade, mas também vemos como nosso papel iniciar programas para prevenir a falsificação de remédios. Temos a tecnologia para isso. Provar a qualidade de certos medicamentos é bem complicado, por isso temos que concentrar esforços nas farmácias e estoques centrais de remédios”, diz Neeve.
Dentro de cerca de seis meses o laboratório móvel deverá estar disponível em mais países.
Detecção
Hanifa Rebbani trabalha para a ONU no controle de medicamentos. Ela percebeu que nos países ocidentais, com o surgimento do Viagra falso na internet, finalmente foi despertado interesse para o problema. Mas por enquanto, não há nem sequer leis que definam que a produção inadequada de medicamentos é crime.
“Na minha avaliação, antes de mais nada seria preciso definir a falsificação de remédios como crime. Isto ainda não foi reconhecido como tal. Este seria o primeiro passo. Depois disso as sanções teriam que ser postas em prática.”
Alguns países já iniciaram o diálogo sobre um tratado para o combate a falsificações, o Anti-Counterfeiting Trade Agreement (acordo comercial anti-falsificações), que também abrangerá medicamentos falsos. Segundo Rebbani, seria um grande passo à frente se este acordo for concretizado. Mas a execução é difícil. Quem se responsabilizaria pela detecção dos produtores?
Lucro
A Índia é vista como o principal produtor de medicamentos falsos. A China vem em segundo lugar. Autoridades locais não podem fazer muito a respeito, diz o doutor Overbosch, da Clínica Móvel. Os interesses envolvidos são muito grandes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) supõe que o lucro seja em torno de 55 bilhões de euros por ano. E esta é uma estimativa modesta.
RNW-Por Willemien Groot

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentar com elegância e com respeito para o próximo.