sábado, 16 de janeiro de 2010

CV DIÁSPORA:HOLANDA TAMBÉM CHORA "VADÚ"


ROTERDÃO-Ouvimos ontem em Roterdão algumas pessoas que conheceram Vadú e que quizeram deixar o seu testemunho.

Américo Brito
"Foi com muita tristeza que recebi a noticia do desaparecimento fisico do nosso grande músico e cantor Vadú, que pra mim era a estrela da nova geração de músicos caboverdianos.
Conheci-o em 2002, quando passei por Santiago numa das minhas tournées por Cabo Verde e ouvindo as suas músicas e composições, fiquei enfeitiçado pelo seu estilo inovador.
Depois ele veio várias vezes a Roterdão onde tive a oportunidade de conversar com ele mais a fundo.
No ano passado 2009 ele esteve aqui no DUNYA Festival, onde pude vê-lo actuar num grande concerto, interpretando as suas lindas melodias. Encontramos de novo no estúdio de gravação do Jorge do Rosario e foi um belo momento. Ficaram recordações formidáveis desse jovem.
Nas conversas tidas com Vadú ele disse-me que voltaria para a Holanda este ano mas infelizmente o destino foi-lhe ingrato e levou-lhe para bem longe do nosso convivio.
Para a Familia toda do Vadú, as minhas sentidas condolências e muita força e coragem para todos.
Cabo Verde perdeu mais um Jovem, Homem da nossa cultura musical.
Um Jovem Homem que me encantou com as suas músicas. Já não o verei mais, mas ficará para sempre na minha memoria."

Jorge de Rosário
"Perdi um grande amigo. Apesar de conhecê-lo há apenas dois anos, houve logo algo que nos uniu muito e agora a pouco recebi essa noticia. Sinto-me francamente mal. Vadú era um grande músico, com muito talento que me encantava. Quando actuava ou quando em encontros informais ele tocava e cantava com alegria e entusiasmo.
Espero que a nossa comunidade radicada na Holanda, em Cabo Verde e por todos os lugares nunca esqueçam esse grande nome da nossa música mas como diz o dito popular, nascemos com o nosso destino marcado.
Apesar dos nossos estilos serem diferentes eu é o Vadú tinhamos alguns planos futuros.
Quando ele esteve na Holanda em finais de Maio de 2009, ele foi me visitar e no meu estúdio, falamos da música e de muitos outros assuntos. Ele sugeriu para fazermos um estudio de gravação na cidade da Praia e achei uma interessante a ideia. Por isso ficamos de nos encontrar de novo para continuar a conversa.
Infelizmente ele partiu mais cedo; mas quero dizer que o Vadú ficará sempre na minha memória e guardarei uma lembrança muito boa dele como um grande amigo. Que descanse em paz. Para a Sandra campanheira do Vadú e oriúnda da nossa comunidade desejo muita força e que ultrapasse rapidamente essa fase dificil da sua vida.
Ainda quero dizer que estou pronto para juntamente com outros amigos do Vadú fazer um concerto/homenagem a esse grande nome da nossa música."
Luís Fortes
"Cabo Verde perdeu em pouco tempo grandes nomes da nossa música no espaço de um ano.
Posso citar nomes recentemente falecidos como: Biús, Manuel D`Novas, Codé Di Dona, e agora um jovem talento como Vadú que tive a oportunidade de conhecer em Roterdão ao lado da sua companheira Sandra.
Sinto bastante emocionado porque, apesar de não ser um amigo intimo do Vadú, conhecia e apreciava o seu trabalho.
Nesta hora de dor, solidarizo com toda a Familia do Vadú e pondo a minha Fundação ao dispor para a feitura de uma homenagem em memoria do Vádu. Para Sandra desejo muitoa força."
Dina Medina
Dina Medina esteve também presente mas por estar emocionada não quis prestar declaração no momento. Off the record manifestou a sua tristeza pela perda do colega de profissão e envia também a sua solidariedade a companheira do Vadú, Sandra, uma menina da nossa comunidade.
Norberto Silva
Tive a oportunidade de entrevistar o meu primo Vadú a quando da sua última estadia aqui na Holanda. A entrevista teve lugar no café Engels que fica situado na estação central de Roterdão. Para além de mim e do Vadú esteve também presente o Mito da Fundação Avanço que foi o responsável pela sua vinda a Holanda para participar no famoso Festival de Música ao ar livre de Roterdão, o “DUNYA FESTIVAL” que tem sempre lugar em finais de Maio de cada ano na cidade.
Em Memória do meu querido primo segue novamente a entrevista: Face a Face com Vadú.
Que descanses em Paz!
FACE A FACE COM VADÚ
ROTERDÃO - Osvaldo Furtado, conhecido no mundo musical por Vadú, tem 30 anos de idade, cinco de carreira, dois discos a solo e é um dos jovens músicos mais talentosos que faz parte da chamada “Geração Pantera”. No CD “Dixi Rubera” assinou todas as composições o que é algo invulgar num jovem, sobretudo devido à qualidade do mesmo.

Na Holanda mais de 250 mil pessoas estiveram no Festival onde Vadú pode exprimir e elevar a alma crioula a um patamar muito elevado. Norberto Silva, o nosso colaborador da Rádio Atlântico, em Roterdão, aproveitou a oportunidade para uma entrevista com o músico e o resultado aqui fica publicado para apreciação dos nossos leitores.
Rádio Atlântico – Vadú, fala da tua participação no Dunya Festival em Roterdão! Correspondeu às tuas expectativas?
Vadú - para mim é uma satisfação enorme ver que um jovem músico de Cabo Verde participar num festival de tamanha dimensão. Senti-me melhor ainda por ver no rosto das pessoas, na sua forma de manifestar que de facto gostaram. Foi uma experiência muito enriquecedora.
RA - Trouxeste a tua Banda de Cabo Verde?
Vadú - Infelizmente não pude trazer a minha “Banda” porque os custos seriam elevados e por isso o grupo que me acompanhou era composto por músicos residentes aqui na Holanda e fizeram um óptimo trabalho o que mostra que preparam muito bem com base nas músicas enviadas anteriormente.
RA - Como foi trabalhar com músicos que não tinhas antes trabalhado?
Vadú - A maioria já os conhecia através das suas participações em outros eventos. É o caso do Carlos Matos que já o tinha conhecido quando acompanhou o Boy G Mendes e na altura falamos um pouco e ele tinha mais ou menos uma noção da minha forma de trabalhar e de actuar.
RA - Fala de outros nomes que actuaram contigo no Festival…
Vadú: Bem o nome de todos não me recordo neste momento mas posso citar o Carlos Matos, o irmão dele (Walter Matos) e o Baixista do Splash (Roberto Matias) entre outros.
RA - Segundo estimativas dos mídias holandeses passaram pelo local do festival cerca de 250 mil pessoas. Achas que a tua actuação teve impacto?
Vadú – Olha, como já te disse anteriormente, senti-me feliz por ver a alegria no rostos das pessoas e como dissestes havia de facto muita gente e isso para qualquer músico é um motivo de orgulho. Pessoalmente senti-me orgulhoso em colocar o meu País grande também. Ao fim e ao cabo estava a representar o meu País e com um orgulho enorme em ver que o meu show teve impacto positivo.
RA – Vadú, já gravaste dois álbuns “Nha Rais” e “Dixi Rubera”, temas que indicam a tua ligaçào profunda ao interior de Santiago. A vivência das pessoas simples do interior influenciam-te ao compor? Inspiras-te nessas gentes do interior?
Vadú: Claro. Olha, eu estudei um ano nos Picos e outro na Assomada e posso dizer-te que sempre estive em contacto com o interior de Santiago. E essa influência toda acaba por fazer parte de mim e acabam por fazer parte da música que componho e canto. Preocupo-me com o dia a dia dessas pessoas simples do interior de Santiago em todas as facetas e isso acaba por inspirar-me e leva a que as minhas composições sejam como são.
RA - Recriar as tradições do interior de Santiago tem quase sempre o dedo do Orlando Pantera para jovens músicos como tu. Pantera influenciou-te em termos musicais?
Vadú: Pantera foi e continua a ser alguém especial para mim. Aprendi a tocar com o Pantera, ele é que me levou a actuar no concurso “Todo Mundo Canta”, na Assomada, pela primeira vez. Não é por ele não pertencer ao mundo dos vivos que vou negar a influência que ele teve na minha formação musical
RA - Em que medida Pantera foi importante nos jovens da tua geração, em termos de uma abordagem diferente de fazer a música tradicional? Aliás são apelidados de “Geração Pantera”….
Vadú: Olha falar de “Geração Pantera” é algo que foi inventado pelos meios de comunicação social. Eu acho que nenhum de nós tocará como Pantera. O importante é seguir cada um dos nossos caminhos sem nunca esquecer o que foi Orlando Pantera. Eu confesso ser um grande admirador do Pantera e apesar de considerar que as minhas composições são diferentes dele tento manter em muitas composições a linha dele.
RA - Tens um estilo próprio? Que influências podes citar na tua forma de fazer música?
Vadú: Olha, a música é algo que muda e sofre pois claro influências. Não é, por exemplo, por conhecermos três notas que vamos sempre usar essas três notas. Precisamos inovar, fazer com que essas notas evoluam para mais e não ficar no mi, fa, sol, la, si, do… Por isso é preciso ir buscar outras sonoridades para enriquecer a própria música de Cabo Verde.
RA - E onde vais tu buscar esta sonoridade?
Vadú: Quando componho parece que acontece espontaneamente, mas quando penso, a frio, vejo que sofro influências da música do continente africano, europeu, americano, etc., etc. Enfim, a música sente-se. É o que o teu coração dita que escreves.
RA - Voltando ao teu último trabalho, ”Dixi Rubera”, nota-se uma diferença em termos de arranjos. O que te levou a escolher os músicos para este trabalho que marca uma evolução na tua música?
Vadú: De facto gravei o meu primeiro trabalho com bons músicos, mas no segundo quis coisas diferentes e gravar com outras pessoas o que penso ser normal uma vez que não queria que o segundo CD ficasse igual ao primeiro. No Segundo escolhi o Hernani Almeida por ser um óptimo músico, e por ter qualidades humanas que aprecio muito. Também participaram o Amílcar Chantre e o Jorge Lima. As composições do álbum foram da minha autoria.
RA - Estás a promover o “Dixi Rubera”. Antes da Holanda, onde mais promovestes o “Dixi Rubera”?
Vadú: Em Cabo Verde actuei nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Sal e Santiago. Na Europa já estive em Portugal e agora na Holanda. Estive também antes de vir para cá no Brasil.
RA - Como foi a tua experiência no Brasil?
Vadú: No Brasil foi uma experiência interessante com músicos de renome de África como o angolano Filipe Mukemba ou o moçambicano Roberto Matias, onde, devido a simplicidade dos participantes, acabei por aprender muito. Até porque o público também esteve interactivo com os artistas e foi um Festival tipo work shop. No Brasil estive no Josaba, Recife e Florianópolis.
RA - De certeza que deves ter mais actuações. Podes avançar-nos os próximos passos para a promoção do “Dixi Rubera”?
Vadú: Bem, agora vou para Cabo Verde e se tudo correr bem estarei, quarta feira, em casa e no dia 24 de Junho, de novo, com pé na estrada e, desta vez, o destino será os Estados Unidos da América.
RA - Em termos financeiros estás a ver o retorno do teu trabalho?
Vadú: Neste momento não me preocupo com problemas financeiros, pois para mim o importante é a divulgação da música de Cabo Verde e, pois claro, dar a conhecer o meu trabalho. Dinheiro, isso fica para segundo plano.
RA - Tens vontade em gravar com algum músico em especial?
Vadú: Bem eu gosto de todos os músicos que promovem o meu País. Tenho os meus tios que os adoro (Zeca e Zezé) e gosto da música deles mas em termos de artistas que gosto, há tantos que não vou citar nomes para não esquecer outros.
No tocante à participação em duetos ou outros trabalhos em conjunto isso só o futuro o dirá.
 Rádio Atlântico (Holanda)

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