PRAIA/Pedro Martins foi, aos 19 anos, o mais jovem preso do campo de concentração do Tarrafal, em consequência da sua actividade clandestina a favor do PAIGC em Cabo Verde. Hoje, arquitecto de formação, dedica o seu tempo a divulgar a história dos que, sem sair do arquipélago, lutaram pela independência nacional. Entrevista por: Teresa Sofia Fortes
- O que determinou a sua vontade de colocar em livro (“Testemunho de um combatente”) a experiência que viveu como recluso do campo de concentração do Tarrafal, durante o regime fascista de António Salazar?
Houve um desejo grande de contar uma história que eu considero épica dos homens e das mulheres de Cabo Verde que se envolveram na luta de libertação da sua terra. Tarrafal foi uma consequência nefasta de termos sido apanhados pela PIDE, que era a polícia do regime, e tivemos que aguentar toda aquela situação. Escrever este livro não foi uma questão pessoal porque nós estivemos a lutar pelo povo de Cabo Verde. Portanto, em nome do povo de Cabo Verde passamos por todas aquelas situações e era importante informar, esclarecer o povo o quanto custou a independência nacional. É uma asserção de responsabilidade. Na cadeia simbolizávamos a liberdade, um Cabo Verde novo, livre.
- O que determinou a sua vontade de colocar em livro (“Testemunho de um combatente”) a experiência que viveu como recluso do campo de concentração do Tarrafal, durante o regime fascista de António Salazar?
Houve um desejo grande de contar uma história que eu considero épica dos homens e das mulheres de Cabo Verde que se envolveram na luta de libertação da sua terra. Tarrafal foi uma consequência nefasta de termos sido apanhados pela PIDE, que era a polícia do regime, e tivemos que aguentar toda aquela situação. Escrever este livro não foi uma questão pessoal porque nós estivemos a lutar pelo povo de Cabo Verde. Portanto, em nome do povo de Cabo Verde passamos por todas aquelas situações e era importante informar, esclarecer o povo o quanto custou a independência nacional. É uma asserção de responsabilidade. Na cadeia simbolizávamos a liberdade, um Cabo Verde novo, livre.
- Era bastante jovem, apenas 19 anos, quando foi encarcerado. Como viveu essa experiência?
A idade cronológica e a idade mental às vezes não vão de mãos dadas, como foi o meu caso. Divertia-me como qualquer jovem, mas amadureci muito cedo e quando fui para a prisão tinha uma responsabilidade política que eu considero enorme dentro da estrutura clandestina do PAIGC.
- Ingressou nas fileiras clandestinas do PAIGC aos 16 anos. Qual era a sua função?
Eu liderava as estruturas clandestinas do PAIGC na ilha de Santiago. E, nessa altura, já estava programado pelo partido na resistência que eu deveria vir acabar os meus estudos liceais em S. Vicente para ajudar o esforço de mobilização na ilha, porque Santiago já tinha alcançado uma dinâmica enorme. Eu, na medida do possível vivi a minha juventude, mas esta parte de integrar a luta de libertação era uma parte fundamental da nossa vida naquela altura.
- Muitos jovens partilhavam essa dedicação, ou não?
Muitos jovens como eu puseram a sua vida à disposição da luta pela independência nacional. O grupo de jovens a que pertenci era crítico e não seguidista. Caso contrário, seríamos membros da Mocidade Portuguesa ou então informantes da PIDE, pois a Gestapo portuguesa procurou recrutar o maior número possível de agentes, principalmente jovens, tudo para poder saber o que se passava. Nós tínhamos uma formação porque líamos muito sobre Economia, Sociologia, Política mas também romances como “Subterrâneos da Liberdade”, de Jorge Amado, três volumes que devorei em apenas uma semana, entre outros, que foram uma boa escola para nós.
Hoje, 35 anos após a independência, como classifica a nossa juventude? Concorda que é uma juventude apática, que não tem causas?
A juventude é sempre generosa, sempre procura bons caminhos. Não acontece com 100% dos jovens, mas eles levantam-se, seguem um caminho quando se sentem inspirados. Talvez o processo político em Cabo Verde não tem inspirado suficientemente os jovens para que eles possam ser generosos. Não é que os jovens de antigamente eram melhores que os de agora, mas nós tínhamos uma liderança à altura, uma causa grande, que era a luta pela independência. Hoje também há causas grandes, causas de desenvolvimento, de preservação dos interesses do país e, sobretudo, da juventude futura.
- Como fundador da Associação de Combatentes da Liberdade da Pátria, como avalia a situação dos ex-presos políticos?
Muitos ex-presos não têm o apoio do governo só porque fizeram a resistência ao regime salazarista sem ir à mata da Guiné. A luta de resistência interna tem sido subestimada pelos governos de Cabo Verde. Mas também o governo português tem responsabilidades. Deve assumir a sua responsabilidade em relação aos ex-presos políticos. Alguns presos políticos recebem apoio no âmbito do Programa de Luta Contra a Pobreza. Isso não é forma digna de tratar gente que perdeu a liberdade e penou no campo de concentração de Tarrafal a favor da independência nacional.
Entrevista por: Teresa Sofia Fortes
ASEMANA.SAPO.CV
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