quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

USA:Obama aperta o cinto no primeiro 'estado da União'


Barack Obama tenta hoje à noite relançar a sua presidência com um discurso do estado da União escrito a pensar nas classes médias norte-americanas atingidas pela crise económica. Na ressaca de uma humilhante derrota no Massachusetts, com a popularidade em queda, o Presidente está a moderar a retórica de mudança para se concentrar no combate ao desemprego e à despesa pública.
Com a guerra pelo controlo do Congresso no horizonte - as eleições intercalares de Novembro em que irá a votos a maioria dos lugares no legislativo -, os analistas prevêem que Obama adopte uma política mais populista no segundo ano do seu mandato. A intervenção de hoje no Congresso será o primeiro teste a essa previsão. O discurso ainda não está escrito, mas Obama deu um sinal do que se poderá esperar ao anunciar ontem um pacote de apoios fiscais à chamada "geração sanduíche", que tem de pagar os estudos dos filhos e a reforma dos pais.
A maior surpresa, porém, deverá ser a apresentação de um plano para congelar a despesa pública durante os próximos três anos, que fez os títulos dos jornais.
Conselheiros da Casa Branca comparam a medida aos esforços das famílias americanas para pagar as contas. A imprensa fala numa concessão aos eleitores moderados que temem que as reformas de Obama - com a reforma da saúde à cabeça - estejam a empurrar o país para a bancarrota.
A Casa Branca estima que o congelamento permitirá poupar 250 mil milhões de dólares na próxima década, um pequeno passo para conter o défice de um bilião de dólares - o maior desde os anos da Segunda Guerra Mundial.
Sem recusar o apoio à proposta, o líder republicano na Câmara dos Representantes, John Boehner, denunciou ontem que os cortes não são suficientes: "Isto é como entrar numa dieta depois de ter ganho um concurso de quem come mais tarte."
Embora os pormenores continuem por esclarecer sabe-se que a proposta deixa de fora os departamentos de Defesa, de Segurança Interna e dos Veteranos. "Estamos em guerra e vamos garantir que as nossas tropas têm o financiamento necessário", explicou um conselheiro à CNN.
Entre os analistas existe uma grande expectativa para saber que projectos Obama está disposto a abdicar para equilibrar as contas. "Temos de fazer escolhas difíceis. E nem todos vão ter aquilo que querem", afirmou uma fonte próxima do Presidente.
Certas parecem estar apenas as políticas de estímulo à economia e incentivo ao emprego. Segunda--feira, o Presidente anunciou que vai aumentar os apoios fiscais às famílias pobres com filhos e às pequenas empresas para encorajar a contratação de trabalhadores.
Para desespero da ala esquerda dos democratas, os cortes poderão começar na reforma da saúde - que está ameaçada pela recente perda da maioria no Senado - e passar ainda pelo ambiente. Obama deixou para o segundo ano de mandato o combate às alterações climáticas, mas a sua quebra de popularidade pode obrigá-lo a mudar de planos.
Steve Cochran, do Fundo de Defesa do Ambiente, disse ao Guardian que hoje os ambientalistas estarão atentos ao discurso de Obama para perceber se a "Administração vai em frente com a sua agenda [sobre o clima] ou recua por causa da realidade política".
À televisão ABC, Obama enviou, entretanto, um sinal para os que o elegeram a acreditar na mudança. "Há uma tendência em Washington para acreditar que a missão dos eleitos é serem reeleitos. Não é assim. Prefiro ter um mandato bom do que dois medíocres. Não quero olhar para trás e ver que governei para a popularidade."
O que é o estado da União?
É o discurso anual do Presi-dente dos EUA ao Congresso. O Chefe do Estado avalia a situação do país e enumera os seus planos para o ano que começa.
Será o primeiro discurso do estado da União de Obama ?
Obama dirigiu-se ao Con-gresso há um ano. Mas, porque tinha acabado de tomar posse, essa intervenção não foi considerada um discurso do estado da União.
 Desde quando acontece?
O primeiro presidente dos EUA inaugurou a tradição de falar ao Congresso. George Washington imitou o rei inglês que, por costume, faz um balanço anual da governação no Parlamento.
 Nunca foi interrompido?
Em 1801, Thomas Jefferson, o terceiro presidente, enviou o seu discurso por escrito. Foi preciso esperar até 1913, com Woodrow Wilson, para o Presidente voltar a falar em pessoa. O nome "estado da União" foi cunhado por Franklin D. Roosevelt.
Toda a Administração está presente no discurso?
Todos menos um. O Presidente ordena a um secretário para ficar em lugar seguro. Em caso de ataque, assumirá ele a chefia do Estado.
DN.PT-Por HUGO COELHO

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