Compositor e interprete Vadú (Foto: Joo Barbosa, mindeloinfos.com)
ROTERDÃO - Osvaldo Furtado, conhecido no mundo musical por Vadú, tem 30 anos de idade, cinco de carreira, dois discos a solo e é um dos jovens músicos mais talentosos que faz parte da chamada “Geração Pantera”. No CD “Dixi Rubera” assinou todas as composições o que é algo invulgar num jovem, sobretudo devido à qualidade do mesmo.
Na Holanda mais de 250 mil pessoas estiveram no Festival onde Vadú pode exprimir e elevar a alma crioula a um patamar muito elevado. Norberto Silva, o nosso colaborador da Rádio Atlântico, em Roterdão, aproveitou a oportunidade para uma entrevista com o músico e o resultado aqui fica publicado para apreciação dos nossos leitores.
Rádio Atlântico – Vadú, fala da tua participação no Dunya Festival em Roterdão! Correspondeu às tuas expectativas?
Vadú - para mim é uma satisfação enorme ver que um jovem músico de Cabo Verde participar num festival de tamanha dimensão. Senti-me melhor ainda por ver no rosto das pessoas, na sua forma de manifestar que de facto gostaram. Foi uma experiência muito enriquecedora.
RA - Trouxeste a tua Banda de Cabo Verde?
Vadú - Infelizmente não pude trazer a minha “Banda” porque os custos seriam elevados e por isso o grupo que me acompanhou era composto por músicos residentes aqui na Holanda e fizeram um óptimo trabalho o que mostra que preparam muito bem com base nas músicas enviadas anteriormente.
RA - Como foi trabalhar com músicos que não tinhas antes trabalhado?
Vadú - A maioria já os conhecia através das suas participações em outros eventos. É o caso do Carlos Matos que já o tinha conhecido quando acompanhou o Boy G Mendes e na altura falamos um pouco e ele tinha mais ou menos uma noção da minha forma de trabalhar e de actuar.
RA - Fala de outros nomes que actuaram contigo no Festival…
Vadú: Bem o nome de todos não me recordo neste momento mas posso citar o Carlos Matos, o irmão dele (Walter Matos) e o Baixista do Splash (Roberto Matias) entre outros.
RA - Segundo estimativas dos mídias holandeses passaram pelo local do festival cerca de 250 mil pessoas. Achas que a tua actuação teve impacto?
Vadú – Olha, como já te disse anteriormente, senti-me feliz por ver a alegria no rostos das pessoas e como dissestes havia de facto muita gente e isso para qualquer músico é um motivo de orgulho. Pessoalmente senti-me orgulhoso em colocar o meu País grande também. Ao fim e ao cabo estava a representar o meu País e com um orgulho enorme em ver que o meu show teve impacto positivo.
RA – Vadú, já gravaste dois álbuns “Nha Rais” e “Dixi Rubera”, temas que indicam a tua ligaçào profunda ao interior de Santiago. A vivência das pessoas simples do interior influenciam-te ao compor? Inspiras-te nessas gentes do interior?
Vadú: Claro. Olha, eu estudei um ano nos Picos e outro na Assomada e posso dizer-te que sempre estive em contacto com o interior de Santiago. E essa influência toda acaba por fazer parte de mim e acabam por fazer parte da música que componho e canto. Preocupo-me com o dia a dia dessas pessoas simples do interior de Santiago em todas as facetas e isso acaba por inspirar-me e leva a que as minhas composições sejam como são.
RA - Recriar as tradições do interior de Santiago tem quase sempre o dedo do Orlando Pantera para jovens músicos como tu. Pantera influenciou-te em termos musicais?
Vadú: Pantera foi e continua a ser alguém especial para mim. Aprendi a tocar com o Pantera, ele é que me levou a actuar no concurso “Todo Mundo Canta”, na Assomada, pela primeira vez. Não é por ele não pertencer ao mundo dos vivos que vou negar a influência que ele teve na minha formação musical.
RA - Em que medida Pantera foi importante nos jovens da tua geração, em termos de uma abordagem diferente de fazer a música tradicional? Aliás são apelidados de “Geração Pantera”….
Vadú: Olha falar de “Geração Pantera” é algo que foi inventado pelos meios de comunicação social. Eu acho que nenhum de nós tocará como Pantera. O importante é seguir cada um dos nossos caminhos sem nunca esquecer o que foi Orlando Pantera. Eu confesso ser um grande admirador do Pantera e apesar de considerar que as minhas composições são diferentes dele tento manter em muitas composições a linha dele.
RA - Tens um estilo próprio? Que influências podes citar na tua forma de fazer música?
Vadú: Olha, a música é algo que muda e sofre pois claro influências. Não é, por exemplo, por conhecermos três notas que vamos sempre usar essas três notas. Precisamos inovar, fazer com que essas notas evoluam para mais e não ficar no mi, fa, sol, la, si, do… Por isso é preciso ir buscar outras sonoridades para enriquecer a própria música de Cabo Verde.
RA - E onde vais tu buscar esta sonoridade?
Vadú: Quando componho parece que acontece espontaneamente, mas quando penso, a frio, vejo que sofro influências da música do continente africano, europeu, americano, etc., etc. Enfim, a música sente-se. É o que o teu coração dita que escreves.
RA - Voltando ao teu último trabalho, ”Dixi Rubera”, nota-se uma diferença em termos de arranjos. O que te levou a escolher os músicos para este trabalho que marca uma evolução na tua música?
Vadú: De facto gravei o meu primeiro trabalho com bons músicos, mas no segundo quis coisas diferentes e gravar com outras pessoas o que penso ser normal uma vez que não queria que o segundo CD ficasse igual ao primeiro. No Segundo escolhi o Hernani Almeida por ser um óptimo músico, e por ter qualidades humanas que aprecio muito. Também participaram o Amílcar Chantre e o Jorge Lima. As composições do álbum foram da minha autoria.
RA - Estás a promover o “Dixi Rubera”. Antes da Holanda, onde mais promovestes o “Dixi Rubera”?
Vadú: Em Cabo Verde actuei nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Sal e Santiago. Na Europa já estive em Portugal e agora na Holanda. Estive também antes de vir para cá no Brasil.
RA - Como foi a tua experiência no Brasil?
Vadú: No Brasil foi uma experiência interessante com músicos de renome de África como o angolano Filipe Mukemba ou o moçambicano Roberto Matias, onde, devido a simplicidade dos participantes, acabei por aprender muito. Até porque o público também esteve interactivo com os artistas e foi um Festival tipo work shop. No Brasil estive no Josaba, Recife e Florianópolis.
RA - De certeza que deves ter mais actuações. Podes avançar-nos os próximos passos para a promoção do “Dixi Rubera”?
Vadú: Bem, agora vou para Cabo Verde e se tudo correr bem estarei, quarta feira, em casa e no dia 24 de Junho, de novo, com pé na estrada e, desta vez, o destino será os Estados Unidos da América.
RA - Em termos financeiros estás a ver o retorno do teu trabalho?
Vadú: Neste momento não me preocupo com problemas financeiros, pois para mim o importante é a divulgação da música de Cabo Verde e, pois claro, dar a conhecer o meu trabalho. Dinheiro, isso fica para segundo plano.
RA - Tens vontade em gravar com algum músico em especial?
Vadú: Bem eu gosto de todos os músicos que promovem o meu País. Tenho os meus tios que os adoro (Zeca e Zezé) e gosto da música deles mas em termos de artistas que gosto, há tantos que não vou citar nomes para não esquecer outros.
No tocante à participação em duetos ou outros trabalhos em conjunto isso só o futuro o dirá.
ENTREVISTA CONDUZIDA POR NORBERTO SILVA
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